Saiba como identificar os níveis de escrita de sua turma e registrar os dados para acompanhar a aprendizagem

Se você fez a sondagem de escrita dos alunos, agora precisa avaliar, analisar e registrar os dados. Saiba como fazer tudo isso, com informações detalhadas e modelos de fichas para registro!

Olá! Que bom ter você aqui!

À primeira vista, quando vemos a escrita de crianças que ainda não aprenderam a escrever convencionalmente, parece um código difícil de explicar. Mas, quando temos conhecimento sobre as hipóteses que as crianças formulam, segundo a psicogênese da escrita, tudo fica claro. É muito interessante descobrir como as crianças aprendem!

Além de ser interessante, o conhecimento sobre o nível de escrita dos alunos ajuda a orientar o planejamento e encaminhar intervenções pedagógicas para que todos avancem, independentemente do nível que estão.

No artigo anterior, apresentei três propostas sobre como fazer sondagem de escrita. A primeira proposta foi um ditado de uma lista de palavras, ideal para um diagnóstico inicial ou para alunos que estejam no início da alfabetização. O segundo tipo de sondagem apresentada foi a reescrita de um conto, para alunos que já escrevem convencionalmente. E a terceira proposta foi uma sondagem contextualizada, utilizando atividades que acontecem no cotidiano da sala de aula e são relacionadas a situações reais de escrita.

Este post vai te ajudar a avaliar esses três tipos de sondagem. Você vai aprender ou relembrar, quais são as características de cada nível de escrita: pré-silábico, silábico sem valor sonoro, silábico com valor sonoro, silábico-alfabético e alfabético. A partir dessas características, é possível avaliar a escrita dos alunos, levantadas por meio da sondagem.

Se você ainda não realizou a sondagem de escrita, veja aqui como realizar:


Confira três propostas de como realizar sondagem de escrita


Além disso, você terá acesso a estratégias e instrumentos para registrar o nível de escrita de cada aluno.

Como avaliar a sondagem de escrita realizada a partir de ditado

Primeiramente, vamos analisar a folha de ditado dos alunos. Você irá observar quais escritas dos estudantes apresentam as características de determinado nível. Vale lembrar que não existe um tipo de escrita padronizada para cada hipótese. Isso significa que um grupo de alunos que estão categorizados dentro de um mesmo nível, podem apresentar escritas diferentes. Também podem acontecer interseções entre os níveis, ou seja, o aluno está avançando de um nível para outro.

Assim, classificar os alunos em níveis de escrita é um procedimento didático para melhor compreensão das hipóteses que as crianças estão formulando em suas tentativas de escrever convencionalmente. As pesquisadoras argentinas Emilia Ferreiro e Ana Teberosky identificaram esses estágios ou níveis de compreensão do sistema de representação, que nos ajudam a compreender a escrita e planejar intervenções adequadas às especificidades dos alunos.

Nível pré-silábico

Observe nos ditados, se há escritas com desenhos, rabiscos, pseudo letras, números ou garatujas (escritas indecifráveis para o adulto). Essa é a fase inicial do nível pré-silábico. No início, a criança não percebe a relação entre a escrita e a fala e por isso, acredita que a escrita é uma maneira de desenhar os objetos.

É comum o aluno escrever palavras pequenas ou com poucas letras para nomear objetos pequenos e palavras grandes ou com muitas letras para nomear objetos grandes. Nesse caso, ele ainda não venceu a fase do realismo nominal.

Mas, não só essas características do nível pré-silábico. Há evoluções dentro dessa hipótese. Logo, a criança começa a perceber a diferença entre o desenho e a escrita.

Sendo assim, analise nos ditados as seguintes questões. Se a criança escreveu ocupando toda a largura da folha com uma grande quantidade de letras. Ou utilizou apenas uma letra para representar cada palavra.  Ou ainda se utilizou o mesmo conjunto de letras numa mesma ordem para escrever palavras diferentes.

Também são características dos alunos pré-silábicos acreditar que é preciso um número de letras (de 2 a 4) para escrever alguma coisa. Eles costumam usar as mesmas letras, geralmente, do próprio nome, variando a ordem e quantidade de letras para cada palavra.

Porém, também há escritas pré-silábicas em que a quantidade de letras é a mesma para todas as palavras do ditado, sendo que as letras são diferentes e a ordem delas também. As crianças, então, começam a diferenciar bastante uma escrita da outra, com o objetivo de escrever palavras distintas.

Enfim, são muitos fatores para observar se o aluno é pré-silábico. Mas, para resumir, tenha em mente aqueles alunos que, no ditado, não fizeram correspondência entre escrita e som. Em relação à quantidade, pois o número de letras não corresponde ao número de sílabas e fonemas das palavras ditadas. E também em relação à qualidade, pois as letras utilizadas não correspondem aos fonemas das palavras que você ditou.

No momento da leitura, esses alunos passaram o dedo direto na palavra? É também um indício de que não reconhecem a pauta sonora das palavras.

Como avaliar sondagem de escrita: exemplos de escrita pré-silábica

Nível silábico sem valor sonoro

Neste nível, as crianças começam a entender a escrita como representação do som da palavra que estão nomeando. No entanto, formularam uma hipótese de que a quantidade de letras de uma palavra deve ser a mesma quantidade dos segmentos silábicos pronunciados. Para simplificar, escrevem uma letra para cada sílaba.

Para identificar quais alunos estão no nível silábico sem valor sonoro, considere as escritas que embora, tenham uma letra para cada sílaba, essas letras não representam o som correspondente. Em outras palavras, utilizam uma letra qualquer para representar a sílaba e isso é um sinal de que estão no nível de escrita silábico sem valor sonoro.

Como avaliar sondagem de escrita: exemplos de escrita silábica sem valor sonoro

Nível silábico com valor sonoro

Aqui você também deve observar escritas que possuem uma letra para representar a sílaba. Contudo, não é uma letra aleatória. Pelo contrário, a criança utiliza letras que correspondem ao som da sílaba. Às vezes, usa só vogais ou só consoantes. Outras vezes, utilizam tanto vogais, quanto consoantes. 

Porém, há uma questão interessante nessa hipótese e devemos ter atenção. Os alunos vão criando outras hipóteses, como a de que existe uma quantidade mínima de letras para escrever. Por isso, principalmente na palavra monossílaba, o aluno silábico pode não se conformar em usar apenas uma letra. Porque acredita que não se pode escrever uma palavra com uma letra só ou mesmo duas.

Diante desse conflito, é comum que o aluno acrescente mais letras, o que não significa que ele não esteja no nível silábico. No momento da leitura é mais fácil identificar esse conflito.

Como avaliar sondagem de escrita: exemplos de escrita silábica com valor sonoro

Nível silábico-alfabético

Nesta hipótese, considere alunos que, ora escreveram uma letra para representar a sílaba, ora escreveram a sílaba completa. Geralmente, a dificuldade é maior em sílabas complexas.

Nessa perspectiva, há um conflito da criança, que está quase no nível alfabético. Está fazendo essa transição do silábico para o alfabético. Por isso, às vezes, grafa as palavras a partir da hipótese de que a escrita representa a sílaba como unidade mínima. E outras vezes, já demonstra compreender que a escrita representa os fonemas.

Observar essa questão remete à importância da Psicogênese da escrita. Você já deve ter ouvido a expressão de que “o aluno está comendo letras”, em um passado distante ou nem tão distante assim. Na verdade, é um bom sinal, a criança está evoluindo! Ela está acrescentando letras às palavras, pois vem de um nível silábico e está caminhando para o nível alfabético.

Como avaliar sondagem de escrita: exemplos de escrita silábica-alfabética

Nível alfabético

Serão classificados neste nível, os alunos que na escrita das palavras ditadas, usaram letras para representar fonemas. Isto é, foram capazes de fazer todas as relações entre grafemas e fonemas.

No entanto, não significa que os alunos alfabéticos já escrevem convencionalmente. Eles ainda apresentam problemas na transcrição da fala e cometem erros ortográficos. Como entendem que a escrita representa a fala, muitas vezes escrevem como a gente costuma falar no cotidiano. Assim, o grande desafio para esses estudantes, é entender a convenção ortográfica de nossa língua.

Como avaliar sondagem de escrita: exemplos de escrita alfabética
Planilha para registrar sondagem de escrita

Confira uma planilha que facilita o registro da sondagem de escrita

Com esta planilha vai ficar fácil registrar as hipóteses de escrita dos alunos e analisar os resultados.

Como avaliar a sondagem de escrita realizada a partir de um contexto significativo

Para esse tipo de sondagem, é preciso avaliar como as crianças realizaram suas escritas e como interagiram com o professor ou com outros colegas, no caso de agrupamentos.

Assim como na sondagem a partir de ditado, avalie os níveis de escrita de cada aluno. O processo é o mesmo. A única diferença é que nessa proposta de sondagem os alunos não escreveram uma lista de palavras ditadas. Mas, sim, participaram de uma situação de escrita em que precisaram escrever algumas palavras com propósito comunicativo.

Por isso, é interessante avaliar além das hipóteses de escrita. Observe se os alunos utilizaram recursos para escrever (palavras de referência, como nome dos colegas, demais escritas presentes na sala de aula, consulta ao professor ou aos colegas). Também avalie se eles têm autonomia para escrever, se conseguem interagir uns com os outros, se a escrita é legível, entre outras observações.

Embora seja uma possibilidade realizar agrupamentos, a avaliação também deve ser individual, aluno por aluno. Já a avaliação entre o grupo tem o objetivo de observar se aquele agrupamento foi realmente produtivo. Não significa que a atividade precise ficar correta do ponto de vista alfabético, mas sim que as crianças pensem juntas de modo que ambas tomem decisões sobre como escrever.

Como avaliar a sondagem de escrita realizada a partir da reescrita de um trecho de conto

Como essa sondagem foi aplicada para alunos que já compreenderam o sistema de escrita alfabética, aqui é possível analisar as questões de ortografia e habilidades de produção de texto.

Kaufman, Gallo e Wuthenau (2009) sugerem que para avaliar a reescrita de um conto devemos observar os seguintes aspectos:

Estrutura narrativa: observamos quantos e quais episódios os estudantes incluíram, se apresentaram ou não apresentaram distorções. Os episódios são aqui entendidos como as ações que se relacionam por causalidade, ou seja, que são necessárias para que as próximas aconteçam.

Motivações dos personagens: podemos observar em quais casos e de que maneira os alunos organizam os motivos que os personagens têm para agir de determinada forma.

Coesão textual: avaliamos como os estudantes utilizam as estratégias de coesão, tais como substituições e uso de conectores.

Recursos literários: analisamos se os estudantes apresentam descrições na reescrita do conto para enriquecer a trama narrativa. Se utilizam diálogos, se usam palavras e expressões típicas do gênero conto.

Além desses aspectos, é possível avaliar nesta sondagem de escrita se a criança se apropriou das normas ortográficas, se utilizou pontuação e paragrafação, se emprega letras maiúsculas corretamente, se segmenta o texto em palavras, se utiliza substituição lexical e pronominal. Enfim, são muitas possibilidades, pois essa sondagem permite uma riqueza de informações sobre a aprendizagem dos estudantes.

Como registrar e fazer o acompanhamento das aprendizagens por meio das sondagens de escrita

O registro das aprendizagens dos estudantes é muito importante, pois é por meio deles que temos os dados para planejar as intervenções pedagógicas. É importante realizar as sondagens de escrita de tempos em tempos e organizar os registros. Assim, é possível acompanhar e visualizar a evolução ou não na escrita dos alunos ao comparar esses dados.

Registrar em forma de tabelas é interessante para visualizar os resultados de toda a turma. O professor pode ir além da marcação de “X” ou de “sim” ou “não”, que é uma análise mais quantitativa e registrar também informações detalhadas de suas observações, ou seja, uma análise qualitativa. Dessa forma, o registro fica mais rico ainda.

A seguir, você pode baixar modelos para registrar cada uma das sondagens apresentadas neste artigo.

Como editar os arquivos compartilhados?

Os arquivos a seguir estão disponíveis no Google Drive. Para editar você precisa fazer uma cópia.

Clique em “Arquivo” (canto superior esquerdo) > Depois em “Fazer uma Cópia”.

Você pode renomear, salvar e editar no seu próprio Drive.

Também é possível baixar para editar no Word. Para isso, clique em “Arquivo” > Depois em “Fazer Download” > “Microsoft Word (.docx)”

Registro para a sondagem de escrita realizada por meio de ditado

Nessa ficha, o preenchimento é realizado por cores. O intuito é registrar cada nível de escrita com uma cor diferente. É uma forma interessante de visualizar tanto a heterogeneidade ou homogeneidade da turma, quanto a evolução de cada aluno em datas diferentes.


Registro para a sondagem de escrita realizada a partir de um contexto significativo

Nessa ficha, é possível registrar a hipótese de escrita de cada aluno e também outras informações sobre como a criança está interagindo com as atividades de escrita.


Registro para a sondagem de escrita realizada a partir da reescrita de um trecho de conto

Esse registro apresenta duas fichas. A primeira permite avaliar a reescrita, com base nos aspectos descritos por Kaufman, Gallo e Wuthenau (2009) e a segunda permite avaliar a ortografia e habilidades relacionadas à produção escrita.


Conclusão

Esse post apresentou possibilidades sobre como avaliar a sondagem de escrita dos alunos e identificar o nível de aprendizagem de cada estudante sobre a escrita. Realizar as sondagens, avaliar, analisar e registrar os resultados são os primeiros passos desse processo. Não basta identificar os níveis de escrita, preencher os registros e deixá-los guardados em uma pasta. Ou seja, esse processo não se torna relevante se for apenas uma questão de burocracia para preencher documentos.

Portanto, é fundamental apropriar-se desses registros para planejar situações didáticas que ajudem as crianças a avançar na aprendizagem. Provavelmente, os registros vão apresentar uma diversidade de níveis de aprendizagem, pois essa é uma realidade cada vez mais comum nas escolas. Diante disso, é uma possibilidade, por exemplo, realizar agrupamentos com estudantes de níveis de escrita próximos. E assim, planejar intervenções pedagógicas específicas para cada grupo, de acordo com suas necessidades.

Esse conteúdo foi útil? Deixe um comentário!

Referências

COUTINHO, Marília de Lucena. Psicogênese da língua escrita: O que é? Como intervir em cada uma das hipóteses? Uma conversa entre professores. In: MORAIS, Artur Gomes; ALBUQUERQUE, Eliana Borges Correia de; LEAL, Telma Ferraz (orgs). Alfabetização: apropriação do sistema de escrita alfabética. Belo Horizonte: Autêntica, 2005, p. 47-69.

FERREIRO, Emilia. Reflexões sobre alfabetização. 26 ed. São Paulo: Cortez, 2011.

KAUFMAN, Ana Maria; GALLO, Adriana; WUTHENAU, Celina. Como avaliar aprendizagens em leitura e escrita? Um instrumento para o primeiro ciclo da escola primária. Publicado  em Lectura y Vida, Buenos Aires, ano 30, jun. 2009. Disponível em: https://docplayer.com.br/17252389-Como-avaliar-aprendizagens-em-leitura-e-escrita-1.html. Acesso em: 07 jun. 2023.

Deixe um comentário