Saiba o que é imprescindível para um eficiente plano de ação para alunos com dificuldades na leitura e na escrita. Descubra contribuições de pesquisas científicas, além de estratégias práticas.
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A leitura e a escrita são habilidades fundamentais para o desenvolvimento acadêmico e social.
Hoje, presenciamos índices preocupantes que alertam as escolas para a necessidade de ter um plano de ação para alunos com dificuldades na leitura e na escrita.
Porém, algumas ações que traziam resultados há algum tempo, hoje não funcionam mais. A sociedade muda e o ambiente escolar reflete essas mudanças.
Diante desse desafio, uma das iniciativas que parece trazer mais resultados é olhar para as evidências científicas e aproveitar essas contribuições para delinear um plano de ação bem fundamentado.
Neste post, você encontrará orientações claras, exemplos e estratégias que podem ser aplicadas desde já.
Importância da intervenção precoce
Você já ouviu falar do efeito Mateus? Esse termo foi utilizado inicialmente por Walberg, em 1983. Trata-se de uma analogia com a passagem bíblica (Mateus, 25:29).
O efeito Mateus negativo ilustra que se a criança não adquiriu as habilidades de leitura, não tem uma leitura hábil, lê menos, não adquire fluência e por conseguinte, não consegue compreender textos.
Assim, outras atividades complexas também ficam comprometidas. O aluno se distancia cada vez mais da leitura e com isso, não adquire outras competências que dependem desse conhecimento.
Por esse motivo, a intervenção precoce é necessária. Assim que forem identificadas dificuldades, devemos intervir.
Mas, se o aluno está ou passou do 3º ano e não aprendeu a ler e escrever, o plano de ação torna-se necessário para evitar que esses estudantes terminem os anos iniciais acumulando dificuldades de leitura e escrita.
Etapas para elaborar um plano de ação para alunos com dificuldades na leitura e na escrita
Agora, você vai conferir algumas etapas essenciais para ter um plano de ação que possa realmente ajudar os alunos com dificuldades na leitura e na escrita.
1. Identificação das dificuldades
Um plano de ação começa sempre com um diagnóstico. O processo de aprender a ler e a escrever é muito complexo. Por isso, é preciso identificar as habilidades que os alunos já dominam e aquelas que ainda precisam ser consolidadas.
Uma maneira eficaz de diagnosticar é realizar sondagens de leitura e sondagens de escrita. Também, observar atentamente os estudantes.
Sendo assim, as decisões do plano de ação precisam ser tomadas com base nos dados de uma avaliação completa das habilidades de leitura e de escrita.
Por exemplo, se as crianças ainda não desenvolveram as habilidades preditoras da alfabetização, o plano deve contemplar ações para desenvolver essa “base” necessária.
Isto é, não adianta ter um plano de ação ótimo, mas que contempla ações mais complexas, que os alunos ainda não estão preparados para desenvolver.
2. Analisando as causas das dificuldades
Nem toda dificuldade é igual. São vários fatores que influenciam na aprendizagem, tais como:
- Falta de base na alfabetização inicial
- Falta de incentivo à leitura em casa
- Problemas emocionais, como insegurança ou baixa autoestima
- Questões neurológicas, como dislexia
- Déficit de atenção ou outros transtornos de aprendizagem
Vários estudos identificam uma relação entre dificuldades no aprendizado da leitura com o não desenvolvimento da consciência fonológica. Sendo assim, essa é uma questão que devemos ficar atentas.
3. Definição de metas claras
Quais resultados você pretende alcançar?
Sei que, às vezes, temos metas audaciosas. Mas, se não conseguimos alcançá-las de imediato, corremos o risco de ficarmos frustradas e desistir do plano de ação.
Nesse sentido, é melhor estabelecer metas alcançáveis, tendo em vista as necessidades individuais dos alunos.
4. Montando o plano de ação para alunos com dificuldade na leitura e na escrita
Não existe um modelo rígido que deve ser seguido. Exemplo de estrutura:
- Objetivos
- Ações pedagógicas
- Responsáveis
- Prazos
- Avaliação dos resultados
5. Estratégias práticas para a sala de aula:
As ações dependem dos objetivos que você quer atingir com o plano de ação. Mas, algumas estratégias que podem ser utilizadas para intervenções com alunos com dificuldades na leitura e na escrita são:
- Leitura compartilhada: leia com o aluno, não apenas para ele. Faça perguntas durante a leitura.
- Atividades multissensoriais: trabalhe com letras móveis, desenhos, jogos de memória sonora.
- Jogos pedagógicos: dominó de sílabas, bingo de letras, trilha de palavras.
- Criação de um ambiente propício à leitura: criar um espaço aconchegante na sala de aula para a leitura.
- Produção textual com apoio: dê modelos, inicie frases, monte vocabulários visuais.
- Diálogos frequentes: converse com o aluno sobre seus avanços e o valor da persistência.
- Mapeamento de histórias: utilização de organizadores gráficos para mapear elementos essenciais de uma narrativa.
- Rodas de leitura: diariamente ou frequentemente;
- Jogos de fonética: para desenvolvimento da consciência fonológica e de habilidades fonéticas específicas;
- Aprendizagem entre pares: grupos de alunos para que possam aprender uns com os outros;
- Situações de leitura e escrita reais: Por exemplo, ler um livro e produzir uma indicação literária, pesquisar informações para produzir um mural de curiosidades, escrever um convite para convidar os pais para uma comemoração na escola etc.

Parceria com os pais ou responsáveis
Inclua ações para estimular os pais ou responsáveis a incentivarem o hábito da leitura e da escrita também em casa. Para isso, a escola pode fornecer recursos e sugestões sobre como estimular as crianças a ler e escrever.
Um exemplo, são as sacolinhas de leitura com livros literários e um diário para comentar sobre o livro lido. Essa prática é muito tradicional e costuma trazer bons resultados nos anos iniciais do ensino fundamental.
Inclua estratégias socioemocionais
As crianças que apresentam dificuldades na leitura e na escrita têm a autoestima baixa, se sentem incapazes. O reforço positivo, por exemplo, ajuda a aumentar a motivação e criar uma relação positiva do estudante com a prática de ler e escrever.
Para isso, elogie a criança pelo esforço. Reforce que ela é capaz de aprender.
Acompanhamento e reavaliação
Nenhum plano de ação é fixo. O acompanhamento deve ser contínuo.
As avaliações formativas são ótimas, pois permitem acompanhar o progresso e/ou as dificuldades dos alunos e ajustar as ações quando necessário.
Crie registros de observações e mantenha um portfólio com produções do aluno. Isso permitirá perceber avanços ou a necessidade de ajustes.

Modelo RTI (Modelo de resposta à intervenção): como ele pode inspirar nossas práticas
O modelo RTI (Response to Intervention/Resposta à Intervenção) foi desenvolvido nos Estados Unidos, mas tem sido adaptado e utilizado em diversos países.
No Brasil, existem poucos estudos sobre a eficácia do RTI na nossa realidade, mas eles são otimistas quanto a isso.
Acredito que podemos aprender mais sobre o RTI, aproveitar as contribuições desse modelo e adaptar para o contexto. É muito bom conhecer novas propostas para inspirar nosso trabalho, não é mesmo?
O RTI busca:
- Identificar precocemente dificuldades de aprendizagem
- Oferecer intervenções eficazes e adaptadas
- Monitorar o progresso do aluno de forma contínua
Os programas de resposta à intervenção podem apresentar variações. Vou considerar aqui a visão de Diana Alves (2021).
Geralmente, as intervenções são organizadas em níveis:
Nível 1: Intervenções direcionadas a todos os alunos
No nível 1 são realizadas intervenções com todos os alunos da turma. O monitoramento da aprendizagem acontece pelo menos três vezes ao longo do ano letivo.
Os alunos que apresentarem rendimento abaixo da média obtida pela turma, são considerados alunos com risco de apresentar dificuldades de aprendizagem.
Diante disso, deverão ser encaminhados para o próximo nível de intervenção.
Nível 2: Intervenções a alunos que não avançaram no nível 1, divisão em pequenos grupos
Neste nível, os alunos são organizados em grupos homogêneos quanto às suas necessidades. Eles recebem intervenções mais explícitas, com atividades práticas e dinâmicas que complementam o trabalho interventivo realizado no nível 1.
Pode-se utilizar os mesmos materiais do Nível 1, mas com procedimentos diferentes.
É recomendado que os grupos sejam de 3 a 5 alunos e que a intervenção seja mais intensa e frequente (diariamente ou várias vezes por semana durante cerca de 30-40 minutos/sessão).
O monitoramento do progresso dos alunos do Nível 2 deve ser mensal. Se o estudante não atingir o que é esperado, a recomendação é passar para o Nível 3.

Nível 3: Intervenção individualizada a alunos que não revelaram progresso no nível 2
Seguindo essa perspectiva, o Nível 3 é destinado a alunos que passaram pelos níveis 1 e 2 e, ainda assim, as dificuldades persistem. A intervenção neste nível deve ser intensiva, baseada em evidências, sistemática e diária, com duração de 45-60 minutos.
A avaliação deve ser semanal, com reajustes quando necessários.
Componentes do RTI
Os três componentes fundamentais do RTI são:
a) Tomada de decisão baseada em dados:
Os professores estabelecem uma meta a longo prazo e avaliam para acompanhar o progresso dos alunos em relação à meta. A análise dos dados permite identificar os estudantes com dificuldades e verificar os resultados.
b) Intervenção baseada em evidências
Significa intervenções que tiveram a eficácia comprovada em estudos científicos.
c) Abordagem híbrida usada para implementar o RTI
Pesquisas realizadas no Brasil
As pesquisadoras Andréa Carla Machado e Maria Amelia Almeida (2024) realizaram uma pesquisa quase experimental com o intuito de verificar a eficácia de um programa baseado no modelo de RTI (Resposta à intervenção) para escolares com dificuldade de leitura e escrita.
O programa foi estruturado a partir de atividades relacionadas à consciência fonológica, vocabulário, fluência e compreensão.
Os resultados obtidos apontaram a eficácia e eficiência do modelo RTI aplicado no Brasil. Os dados também demonstraram a importância do monitoramento de tarefas em estudantes com dificuldades na leitura e na escrita.
Uma pesquisa de Almeida et. al (2016) buscou adaptar e colocar em prática o modelo RTI no Brasil. Os resultados também indicaram uma melhoria no desempenho dos estudantes.
Além disso, a pesquisa concluiu, assim como outros estudos, que instruções sistemáticas envolvendo habilidades de consciência fonológica, reconhecimento de palavras e vocabulário são capazes de reduzir o risco de a criança apresentar dificuldades na leitura e escrita.
As experiências e estudos sobre o Modelo de Resposta à Intervenção nos alertam para a importância de não esperar as dificuldades tomarem uma proporção grande para depois intervir.
Isso significa que é muito importante acompanhar, monitorar a aprendizagem, e intervir precocemente para que possamos melhorar o ensino e aprendizagem da leitura e da escrita.
Conclusão
O plano de ação para alunos com dificuldades na leitura e na escrita é muito necessário. Porém, para que tenha resultados é preciso partir de uma reflexão sobre o contexto em que ele vai ser aplicado e sobre as habilidades fundamentais para o aprendizado da leitura e da escrita.
Que tal ter várias sugestões fundamentadas em estudos científicos? Então, você vai gostar de ler este post: Intervenções pedagógicas para alunos com dificuldade na leitura e na escrita
Referências
ALMEIDA, R. P. D. et al.. Prevenção e remediação das dificuldades de aprendizagem: adaptação do modelo de resposta à intervenção em uma amostra brasileira. Revista Brasileira de Educação, v. 21, n. 66, p. 611–630, jul. 2016. https://www.scielo.br/j/rbedu/a/wmKCDq4s7MWTJLzwv7mtgch/?lang=pt
ALVES, Diana. O modelo RTI e a Alfabetização. In: ALVES, Rui A; LEITE, Isabel. Alfabetização Baseada na Ciência. Brasília: Ministério da Educação, 2021, p. 122-147.
MACHADO, Andréa Carla; ALMEIDA, Maria Amelia. O modelo RTI – Resposta à intervenção como proposta inclusiva para escolares com dificuldades em leitura e escrita. Rev. psicopedag., São Paulo , v. 31, n. 95, p. 130-143, 2014 . Disponível em <http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0103-84862014000200006&lng=pt&nrm=iso>. acessos em 08 jul. 2025.