Quais são os níveis de leitura na alfabetização? Entenda cada etapa do desenvolvimento leitor

Saiba quais são os níveis de leitura na alfabetização segundo duas classificações de pesquisadoras influentes nesse tema. Descubra também as contribuições da Ciência da Leitura.

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Ouvimos muito sobre os níveis de escrita (pré-silábico, silábico, silábico-alfabético, alfabético). Mas, na leitura também existem níveis para explicar as etapas em que a criança ou aprendiz passa para aprender a ler?

Sim, existem essas classificações, que podem variar de acordo com o autor.

Neste post, vamos explorar as principais classificações utilizadas por especialistas, além de outras abordagens baseadas em evidências científicas recentes.

Meu objetivo é ajudar você, professora ou professor, a identificar com mais clareza onde seu aluno está e como conduzi-lo para o próximo passo.

Por que entender os níveis de leitura é fundamental na alfabetização?

Reconhecer os níveis ou fases da leitura permite ao professor:

  • Avaliar com mais precisão o desenvolvimento do aluno;
  • Planejar intervenções personalizadas;
  • Prevenir e lidar com dificuldades de aprendizagem;
  • Favorecer práticas alinhadas às diretrizes da BNCC.

Níveis logográfico, alfabético e ortográfico de acordo com Frith

Primeiramente, vamos tratar da classificação apresentada por Uta Frith (1985). Ela é a autora mais citada por propor a sequência de desenvolvimento da leitura em três fases:

1. Nível Logográfico

Neste estágio inicial, a criança reconhece palavras ou símbolos por suas características visuais, sem ainda compreender os princípios do sistema alfabético.

Funciona assim: ela identifica palavras como um todo, como se fossem imagens. Muitas vezes, acerta o nome de marcas ou placas por associação com o contexto visual.

Exemplos: 

  • Crianças que “leem” o logotipo do McDonald’s ou da Coca-Cola 
  • Reconhece a palavra “biscoito” na embalagem, mesmo sem saber ler 
  • Reconhece o nome próprio ou de parentes próximos

Dica: incentive o contato com rótulos, placas e jogos de memória visuais. Use esse reconhecimento como ponte para o som das letras.

2. Nível Alfabético

Aqui, a criança começa a relacionar fonemas (sons) com grafemas (letras). É o momento da decodificação: ela lê letra por letra e constrói a palavra.

A leitura é lenta, mas já há compreensão de que as letras representam sons. A consciência fonológica ganha destaque.

Dica: explore atividades de segmentação e junção de sons, leitura de palavras simples e uso de alfabeto móvel.

3. Nível Ortográfico

No nível ortográfico, a criança já reconhece padrões ortográficos e unidades maiores que letras isoladas, como sílabas e famílias de palavras. A leitura torna-se automática e fluente.

A criança reconhece palavras mesmo sem precisar decodificar letra por letra. Leitura com entonação e compreensão ganha destaque.

Dica: trabalhe com textos variados, leitura compartilhada, produção escrita e ortografia contextualizada.

Criança lendo um livro.

Fases pré – alfabética, parcialmente alfabética, totalmente alfabética e consolidação alfabética segundo Ehri

Agora, vamos falar de outra classificação, de Linnea C. Ehri (1992, 2005) citada por Sandra Fernandes (2021).

Segundo essa classificação, existem quatro fases de desenvolvimento da leitura:

  • Fase pré – alfabética: a criança ou leitor aprendiz não conhece o princípio alfabético. Assim, tenta usar pistas visuais para identificar a palavra.
  • Fase parcialmente-alfabética: Nessa fase o leitor já reconhece que existe uma relação entre letras e sons, mas esse entendimento ainda é incompleto.

Desse modo, ele pode usar, por exemplo, letras iniciais ou finais como pistas para “adivinhar” a palavra.

  • Totalmente-alfabética: nessa etapa, o leitor reconhece que as letras representam “sons” e são capazes de agrupar esses “sons” para chegar a uma pronúncia.

Isto é, compreende plenamente o princípio alfabético e por isso, a leitura torna-se mais precisa.

Já consegue ler palavras não familiares ou desconhecidas.

  • Consolidação Alfabética: nessa última fase o leitor já consegue armazenar padrões de letras que surgem em palavras diferentes (por exemplo, exame, exemplo e exímio). Também consegue ler palavras conhecidas numa apreensão única (by sight).

Ou seja, reconhece padrões comuns na ortografia e automatiza muitas palavras.

Independentemente da classificação, tal como acontece com os níveis de escrita, não existe um processo rígido de desenvolvimento da leitura. Isto é, não significa que todas as crianças vão passar, obrigatoriamente, por todos esses estágios, começando do primeiro até o último.

Três crianças lendo um livro juntas.

Como a Ciência da Leitura entende o desenvolvimento da leitura?

A Ciência da Leitura é um campo multidisciplinar que busca entender como o cérebro aprende a ler.

Ela descreve os componentes fundamentais que precisam ser desenvolvidos para que a aquisição da leitura aconteça com sucesso. Esses componentes são chamados de “Os cinco pilares da Leitura”, um modelo amplamente reconhecido a partir do National Reading Panel (2000), nos EUA.

São eles:

  • Consciência fonêmica: Capacidade de perceber e manipular os sons individuais (fonemas) da fala.
  • Correspondência grafema-fonema: Entender que letras representam sons e usar isso para “ler” palavras.
  • Fluência: Capacidade de ler com precisão, velocidade e entonação. A fluência é a “ponte” para a compreensão.
  • Vocabulário: Quanto mais palavras a criança conhece, melhor será sua compreensão da leitura.
  • Compreensão de leitura: Capacidade de entender, inferir e refletir o que foi lido.

A Ciência da Leitura está em constante evolução, pois novas pesquisas surgem e trazem resultados para orientar nossas práticas.

Conclusão

Neste post, abordamos quais são os níveis de leitura a partir da perspectiva de Uta Frith (1985) e de Linnea C. Ehri (1992, 2005). Também sobre as contribuições da Ciência da Leitura.

Acredito que o mais importante é compreender que a aprendizagem da leitura é algo complexo, não é um processo natural. Desse modo, o ensino deve ser explícito e sistemático.

Por isso, é tão importante que compreendamos como o cérebro humano aprende a ler. Pois, esse conhecimento pode ser a bússola para orientar intervenções a partir do que o estudante precisa em determinado momento.

Leia também: Intervenções pedagógicas para alunos com dificuldades na leitura e na escrita

Referências

FERNANDES, Sandra. Fluência na Leitura Oral. In: ALVES, Rui A; LEITE, Isabel. Alfabetização Baseada na Ciência. Brasília: Ministério da Educação, 2021, p. 336-360.

SOUZA, Luana Gabriele Garcia de; ALCANTARA, Hellen França; BARBOSA, Alexandre Lucas de Araújo; FERREIRA-MATTAR, Tais de Lima; SALGADO-AZONI, Cíntia Alves. Vocabulário, consciência sintática e leitura nas dificuldades de aprendizagem. Revista Psicopedagogia, [S. l.], v. 41, n. 126, p. 489–497, 2024. DOI: 10.51207/2179-4057.20240046. Disponível em: https://psicopedagogia.emnuvens.com.br/revista/article/view/37. Acesso em: 9 jul. 2025.

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