Neste post, vamos refletir sobre a importância da neurociência para a educação, acreditando que conhecer melhor os processos de ordem biológica que regem a aprendizagem nos ajuda a buscar estratégias para melhorar a prática pedagógica.
Olá! Que bom ter você aqui!
Atualmente, muito tem se falado sobre a neurociência no cenário educacional.
Às vezes nos perguntamos: se sou professor(a), coordenador(a) e não profissional da área da saúde, por que tenho que me preocupar com uma ciência que estuda os mecanismos biológicos e estruturas cerebrais?
No entanto, quando conhecemos as descobertas da neurociência, percebemos que é um conhecimento muito útil para compreender a aprendizagem dos estudantes.
Mas, você sabe por que ela é importante para a educação? Como ela pode contribuir com a prática docente?
Neste post, vamos entender como a neurociência contribui para o processo de ensino e aprendizagem e como esse conhecimento pode ser aplicado, de forma prática e responsável, no cotidiano escolar.
O que é neurociência e o que ela estuda?
A neurociência é a área da ciência que estuda o sistema nervoso — especialmente o cérebro — e seu impacto sobre o comportamento, as emoções, a linguagem, a memória, entre outros aspectos.
Quando esse campo se aproxima da educação, surge o que muitos chamam de neuroeducação ou neurociência educacional.
Este subcampo das neurociências nos ajuda a compreender os processos relacionados ao aprendizado, à memória e o próprio neurodesenvolvimento.
Seu objetivo não é transformar o professor em neurocientista, mas oferecer informações valiosas sobre como o cérebro aprende, se desenvolve e reage a estímulos.
Assim, os educadores ganham subsídios científicos para refletir sobre suas práticas.
Como a neurociência contribui com a prática em sala de aula?
Ana Luiza Neiva Amaral e Leonor Bezerra Guerra, no estudo “Neurociência e educação: olhando para o futuro da aprendizagem”, apresentam 12 princípios da neurociência para uma aprendizagem mais efetiva.
O estudo é bastante completo e esclarecedor. Mas, para não ficar muito extenso, neste post vou destacar e comentar um pouco sobre 6 desses princípios, portanto, com base em Amaral e Guerra (2022).
A aprendizagem modifica o cérebro
Uma das descobertas da neurociência é a neuroplasticidade, que significa que o cérebro humano tem a capacidade de se organizar e formar sinapses durante toda a vida.
Na sala de aula, podemos compreender e explicar para os alunos que todos têm a capacidade de aprender, pois a inteligência é maleável.
Na matemática, por exemplo, é comum que alunos com dificuldade de aprendizagem, acreditem que não têm a capacidade de aprender, como se fosse uma característica determinada no nascimento e que não pode ser mudada.
Hoje, com os estudos na neurociência sabemos que não é assim.
Outra questão levantada pelas autoras é sobre a qualidade dos estímulos. Uma vez que a aprendizagem muda o cérebro a partir dos estímulos recebidos pelos estudantes, podemos entender que a qualidade dos estímulos é importante e não a quantidade.
Por isso, é importante selecionar o que é mais relevante e utilizar diversos recursos para uma aprendizagem profunda e que faça sentido para o aluno.

A forma como cada um aprende é única
“Cada um dos estudantes tem uma circuitaria neural – conjunto de circuitos neurais distintos e funcionalmente relacionados – configurada de forma exclusiva, que influencia o seu desempenho nas atividades em sala de aula. Estudos de neuroimagem revelam que, toda vez que experimentamos ou aprendemos algo novo, nossos neurônios são fisicamente alterados” (Amaral, Guerra, 2022, p.99).
Esse princípio é cada vez mais claro na realidade em que estamos vivenciando. As turmas estão muito heterogêneas e sabemos que usar a mesma metodologia para toda a turma não garantirá o aprendizado de todos os estudantes.
Diante disso, a neurociência nos mostra a importância de conhecer bem os alunos, seus interesses, para selecionar estratégias e planejar atividades diferenciadas.
Além disso, os conteúdos devem fazer sentido para o aluno. Ele compreende melhor quando a nova informação se conecta:
- com a experiência de vida,
- com valores e crenças
- com os conhecimentos prévios.
Isso acontece quando os professores incentivam os alunos a:
- questionar,
- perguntar,
- confrontar ideias,
- argumentar,
- refletir,
- praticar etc.
A interação social favorece a aprendizagem
Segundo as autoras
“Quando estamos em grupo, o cérebro responde ativando mecanismos neurais que nos motivam a agir. Existem evidências científicas robustas que indicam que a interação social é importante catalisador da aprendizagem” (Amaral; Guerra, 2022, p. 109).

Nesse sentido, é importante
- promover a aprendizagem colaborativa,
- manter altas expectativas sobre os estudantes,
- desenvolver aulas dialogadas,
- estabelecer uma boa sintonia com a turma.
Essa questão é muito interessante porque reafirma o quanto a aprendizagem por pares é válida na sala de aula. A realização de agrupamentos produtivos, por exemplo, pode favorecer muito a aprendizagem.
A emoção orienta a aprendizagem
Segundo as autoras
“técnicas de neuroimagem e psicométricas revelaram que regiões cerebrais anteriormente consideradas puramente “emocionais” (por exemplo, amígdala) ou “cognitivas” (por exemplo, córtex pré-frontal) interagem, estreitamente e de forma dinâmica, para tornar possível processos complexos, tais como aprendizagem” (Amaral; Guerra, 2022, p. 123).
Essas evidências alertam para a importância de considerar os aspectos socioemocionais.
Muitas vezes, ficamos preocupadas em intervir na aprendizagem do ponto de vista cognitivo e esquecemos que os fatores socioemocionais podem estar influenciando no aprendizado.
Nesse sentido, é muito importante desenvolver as competências socioemocionais, criar um bom vínculo professor-aluno e aluno-aluno.
Ultimamente, muito tem se falado sobre a ansiedade matemática, o que nos alerta para a necessidade de possibilitar experiências positivas com a matemática.

A atenção é a porta de entrada para a aprendizagem
Hoje, um dos principais desafios que temos é “prender” a atenção dos alunos. Eles se distraem facilmente, perguntam o que é para fazer diversas vezes.
As evidências da neurociência sobre esse assunto indicam que o cérebro precisa de um bom motivo para focar sua energia.
Por isso, as autoras sugerem a partir dos estudos, iniciar a aula com alguma novidade, para chamar mais atenção e suscitar uma vontade de aprender.
Por exemplo,
- um jogo
- um quebra-cabeça
- a leitura de um poema
Outra sugestão apresentada é possibilitar um papel ativo dos alunos numa tarefa, incentivando-os a
- propor problemas,
- desenhar projetos,
- imaginar soluções,
- criar metas.
Além disso, não deixar os alunos sentados na carteira por muito tempo. Realizar outras atividades que os façam levantar por um tempo para relaxar e resgatar a atenção.
Outra sugestão é dividir o tempo da aula com atividades diversificadas para gerar um novo estímulo de tempos em tempos.
“O fato é que os seres humanos rapidamente se habituam ao contexto. Quando algo em nosso ambiente muda, no entanto, voltamos a prestar atenção novamente” (Amaral, Guerra, 2022, p. 142).
Aprendizagem ativa requer elaboração e tempo para consolidação da memória
“O que deve estar no centro do debate da Educação do século XXI é como potencializar os processos de memória de longa duração que levam a uma aprendizagem efetiva sem utilizar as estratégias pedagógicas repetitivas, enfadonhas e sem sentido baseadas em metodologias de transmissão passiva de informações” (Amaral; Guerra, 2022, p. 152).
Como ativar a memória sem cair no famoso “decoreba”? Segundo os estudos, é fundamental trabalhar o mesmo conteúdo de maneiras diferentes.
Utilizar diversas metodologias para ativar variados canais sensoriais, como
- ler e escrever,
- ver vídeos,
- fazer perguntas,
- levantar hipóteses,
- explicar para os colegas,
- fazer mapas mentais,
- fazer experiências etc.
Lembre aos estudantes e aos pais sobre a importância do sono, porque o cérebro também precisa de descanso. E você, professor, também deve lembrar disso!
Os estudos também afirmam a relevância das metodologias ativas para uma aprendizagem mais eficaz, pois oferecem mais autonomia e responsabilização pela própria aprendizagem.

A autorregulação e a metacognição potencializam a aprendizagem
Amaral e Guerra (2022, p. 157) explicam que
“A autorregulação refere-se à capacidade de monitorar e controlar as próprias emoções e comportamentos. Ela modula as expressões emocionais (positivas ou negativas), possibilitando a interação com os outros de maneiras cada vez mais complexas, de acordo com as regras sociais. Ela está atrelada, também, à capacidade de direcionar comportamentos para resolução de tarefas e de orientar ações para o alcance de metas. A metacognição, por sua vez, refere-se ao processo de tomada de consciência e monitoramento das etapas de pensamento”.
Na sala de aula, algumas estratégias favorecem os processos metacognitivos e a autorregulação da aprendizagem.
Primeiramente, é preciso desenvolver a autonomia dos alunos. Podemos observar que quando as crianças esperam a resposta pronta, elas não avançam no conhecimento. A escolha das metodologias de ensino interfere muito no desenvolvimento ou não da autonomia.
Outra questão é orientar a metacognição, ou seja, ajudar o estudante a “aprender a aprender”.
Isso pode ser colocado em prática, quando incentivamos os alunos a refletirem sobre o próprio aprendizado.
Algumas estratégias apontadas são:
- Oferecer possibilidades para que tornem o pensamento visível, explicando o raciocínio, criando mapas mentais ou mapas conceituais.
- Fazer uso da autoavaliação nas aulas.
Nas aulas de matemática, por exemplo, a ideia de tornar o pensamento visível é muito interessante. Ao propor problemas matemáticos, é normal que os alunos resolvam de formas diferentes.
Convide os alunos a explicar como resolveram determinado problema, selecionando algumas estratégias diferentes, para que possam discutir no quadro. É uma excelente estratégia para promover uma aprendizagem mais significativa.
Quando o corpo participa, a aprendizagem é mais efetiva
Os estudos da neurociência indicam que é importante colocar o corpo do estudante em ação.
As estratégias sugeridas pelas autoras são:
- Promover o “aprender fazendo”, utilizando estratégias como “aprendizagem mão na massa” (hands-on) e “educação maker”.
- Favorecer a concretização, como por exemplo, construir uma maquete.
- Desenvolver atividades que envolvem o corpo todo e estimular a escrita manual.
De fato, principalmente com os alunos que estão enfrentando dificuldades de aprendizagem, envolver múltiplos sentidos ajuda a reter as informações.
Algumas práticas que realizamos com frequência, reafirmam que essas estratégias realmente trazem resultados. Por exemplo, bater palmas para identificar as sílabas, utilizar materiais concretos como Material Dourado, Escala Cuisenaire para facilitar o aprendizado da Matemática.
Conclusão
Muitas vezes, temos um “preconceito” acerca das pesquisas científicas. Provavelmente você já disse ou ouviu de algum colega: “eles nunca pisaram no chão da escola e querem dar palpite”.
Porém, esse “pré-conceito” nos tira a possibilidade de conhecer melhor a maneira como os alunos aprendem.
Como vimos neste post, as evidências científicas nos trazem um novo olhar para os estudantes, vistos de maneira integral. Esse conhecimento pode ajudar na superação dos desafios educacionais na atualidade.
Referências
AMARAL, Ana Luiza Neiva; GUERRA, Leonor Bezerra. Neurociência e educação: olhando para o futuro da aprendizagem / Serviço Social da Indústria, Brasília: SESI/DN, 2022. 290 p. Disponível em: <https://www.portaldaindustria.com.br/publicacoes/2022/10/neurociencia-e-educacao-olhando-para-o-futuro-da-aprendizagem/>. Acesso em 06 ago. 2025.
Imagens: Canva