Como trabalhar a fluência em leitura com seus alunos: estratégias baseadas em evidências

Saiba o que é fluência em leitura, sua importância, como identificar dificuldades no desenvolvimento dessa habilidade, e conheça estratégias para trabalhar a fluência em leitura em sala de aula

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A fluência é uma ponte essencial para a compreensão leitora. É um dos pilares básicos da leitura. 

A preocupação com essa habilidade é relevante, principalmente porque a não consolidação da fluência pode impactar em todo o desempenho acadêmico do estudante.

É comum que tenhamos dúvidas sobre como trabalhar a fluência em leitura, pois nas formações, ela não costuma ter um papel de destaque.

Por isso, esse post tem o propósito de explicar o que é fluência em leitura, porque ela é importante e sugerir estratégias práticas e eficazes para desenvolvê-la.

O que é fluência em leitura?

A fluência em leitura é a habilidade de ler de forma rápida e com precisão. Ou seja, a leitura flui, sem esforço do leitor.

Além da velocidade e precisão, muitos autores consideram também a prosódia. O que significa ler com expressividade, observando pontuação, pausas e outras pistas do texto.

Desse modo, uma leitura fluente não é aquela leitura cansativa, maçante. Pelo contrário, é prazerosa, principalmente para o leitor.

O processo de leitura no sistema alfabético pode ser realizado, pelo menos, por meio de duas maneiras:

  • Rota fonológica: processo de conversão grafema-fonema. Para o leitor iniciante, é um processo sequencial e mais lento.
  • Rota lexical: acesso rápido ao léxico mental para reconhecer a palavra.

O leitor fluente utiliza a rota lexical.

Menina lendo um livro articulando muito para ilustrar a rota fonológica.

Por que a fluência em leitura é tão importante?

A fluência em leitura “liberta” o cérebro para focar na compreensão do que está sendo lido.

É muito comum ver alunos se esforçando muito para decodificar, lendo soletrando e quando perguntamos sobre o que eles acabarem de ler, não conseguem responder.

Isso acontece porque o esforço é muito e como a criança não consegue reconhecer as palavras automaticamente, ela se esquece do que acabou de ler e não consegue compreender o sentido do texto.

Existe uma teoria que explica esse fenômeno, chamada Eficiência Verbal de Per­fetti (1985). Segundo esta teoria, quando há um mecanismo de decodificação eficiente, mais recursos cognitivos são dedicados aos processos de compreensão.

“A fluência na leitura oral fornece a ponte entre a decodificação e a compreensão em leitura” (Pikulski & Chard, 2005 apud Fernandes, 2021, p. 338).

Além disso, a fluência é importante para motivar para a leitura.

Vários estudos indicam que as dificuldades de compreensão em leitura apresentadas nos primeiros anos escolares, influenciam o desempenho do estudante ao longo da trajetória escolar.

Considerando que a fluência é uma preditora da compreensão, os alunos com dificuldades de aprendizagem na leitura, leem menos, não conseguem abstrair de um texto as informações necessárias para aprender (ler para aprender) e com isso, vão acumulando defasagens.

Dificuldades comuns apresentadas pelos alunos

Algumas dificuldades observadas em sala de aula, são indícios de que o estudante não desenvolveu a fluência em leitura:

  • Adições de palavras, tentando “adivinhar” o que está escrito em um texto
  • Omissões (pular palavras mais difíceis ou desconhecidas)
  • Distorções (não ler determinadas palavras corretamente)
  • Lentidão ao ler
  • Não respeitar sinais de pontuação
Aluna lendo para os colegas na sala de aula para ilustrar a importância de trabalhar a fluência em leitura.

Estratégias práticas para desenvolver a fluência

Inicialmente, precisamos considerar que as crianças que não têm a base necessária para desenvolver a decodificação, ainda não estão aptas para alcançar a fluência leitora.

Isso porque é necessário compreender que as letras representam “sons” e conhecer algumas regras ortográficas, já que uma letra pode representar mais de um som.

Além da consciência fonêmica, decodificação e reconhecimento rápido das palavras, é preciso considerar também que o significado que atribuímos às palavras lidas depende do contexto.

Isso nos leva a refletir que existe uma série de habilidades “base” que os alunos precisam ter desenvolvido para conseguirem alcançar a fluência em leitura. Esse é um processo complexo, que demanda muitas intervenções por parte dos professores, uma vez que não são habilidades adquiridas naturalmente.

Nesse sentido, o desenvolvimento da fluência está relacionado com os níveis ou fases de leitura que o leitor aprendiz percorre.

Se o estudante ainda não consolidou o “alicerce”, é preciso intervir nas habilidades de consciência fonológica, inclusive consciência fonêmica, e vocabulário (repertório rico de palavras).

Algumas práticas em sala de aula que contribuem com o desenvolvimento da fluência em sala de aula são:

  • Professor como modelo de leitor: A leitura em voz alta pelo professor é uma prática necessária.

Muitas vezes, não percebemos o potencial desse momento. Esse modelo de leitura prepara a criança para desenvolver, por exemplo, a prosódia.

Professora lendo para os alunos para ilustrar a importância do(a) professor(a) ser um modelo de leitor para trabalhar a fluência em leitura com os alunos.
  • Leitura repetida de textos ou palavras: As mesmas palavras podem ser lidas em contextos diferentes. Ou propor a repetição da leitura de um texto para uma apresentação de teatro.
  • Leitura repetida de pseudopalavras
  • Leitura eco: professor lê, aluno repete
  • Leitura coral: a turma toda lê junto
  • Nos primeiros anos de escolaridade, utilizar palavras regulares, com grafemas simples e frequentes no cotidiano dos alunos
  • Uso de textos curtos e significativos (como parlendas, poemas, quadrinhos)
  • Motivar os alunos para a leitura, por exemplo, realizando projetos de leitura
  • Incentivar os pais a lerem para os filhos em casa
  • Atividades que seguem uma ordem de complexidade, acompanhando a evolução dos alunos
  • Treinos com cartões que contêm palavras
  • Prática de leitura para o professor, o qual deve ajudar, dar pistas e fazer as intervenções necessárias
  • Muita prática de leitura independente

Como avaliar a fluência em leitura?

Além das observações realizadas em sala de aula, há instrumentos para aferir a fluência leitora.

Uma das maneiras de avaliar a fluência em leitura é apresentar uma lista de pseudopalavras (palavras que se assemelham a palavras reais, mas que não possuem significado).

Geralmente, é apresentado um texto apropriado à idade da criança. A leitura é cronometrada, verifica-se o número de palavras lidas corretamente e esse número é comparado com as normas de fluência da leitura próprias da idade.

Para avaliar a prosódia, observe se o aluno:

  • Usa entonação adequada (ex.: muda o tom em perguntas)
  • Faz pausas corretas em vírgulas e pontos
  • Lê com naturalidade

Algumas ferramentas são úteis para realizar essa avaliação:

  • Fichas de leitura com escala de avaliação
  • Diário de leitura, onde o professor anota o progresso individual
  • Gravações periódicas para comparar o desenvolvimento

Referências

CUNHA, V. L. O.; MARTINS, M. A.; CAPELLINI, S. A.. Relação entre Fluência e Compreensão Leitora em Escolares com Dificuldades de Aprendizagem. Psicologia: Teoria e Pesquisa, v. 33, p. e33314, 2017. https://www.scielo.br/j/ptp/a/4G3GsrWzMSk7SSQ7FtrSC5h/?lang=pt. Aceso em 12 jul. 2025.

FERNANDES, Sandra. Fluência na Leitura Oral. In: ALVES, Rui A; LEITE, Isabel. Alfabetização Baseada na Ciência. Brasília: Ministério da Educação, 2021, p. 336-360.

LOPES, João. Ensino e Aprendizagem da Leitura Fundamentos e Aplicações. In: ALVES, Rui A; LEITE, Isabel. Alfabetização Baseada na Ciência. Brasília: Ministério da Educação, 2021, p. 336-360.

Crédito das Imagens: Canva

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