Como escolher atividades para cada nível de escrita: sugestões para intervenções assertivas

Ao analisar uma sondagem de escrita é comum se deparar com uma turma heterogênea. Eis que surge um grande desafio: como planejar atividades para cada nível de escrita? Acompanhe este post para conferir sugestões e ideias de intervenções para cada hipótese de escrita.

Olá! Que bom ter você aqui!

Um dos principais desafios da ação docente é lidar com a heterogeneidade da turma.

Em classes da alfabetização o desafio é ainda maior, pois as crianças precisam de maior atenção. Comumente, estão em níveis diferentes de aprendizagem. 

Diante disso, a professora ou professor se desdobra para atender a todos, de forma coletiva e individual.

Você, provavelmente, já sentiu um certo desespero ao analisar a sondagem de escrita da turma e ver tantos níveis de escrita diferentes. Sabe quando a gente utiliza uma cor para cada nível de escrita e tem um resultado todo colorido?

Se você está passando por isso, este post pode te ajudar

Hoje, trago sugestões de atividades para cada hipótese de escrita (pré-silábica, silábica sem valor sonoro, silábica com valor sonoro, silábico-alfabética e alfabética.

Não se trata de uma metodologia criada para cada nível, mas de intervenções que ajudam cada aluno a avançar a partir do que ele já sabe sobre a escrita.

Além disso, você vai conhecer possibilidades de agrupamentos produtivos como uma estratégia para facilitar o ensino personalizado e também promover interações entre os estudantes.

Acompanhe a leitura para não perder nenhuma dica! 

Dicas de intervenções para todos os níveis de escrita

Antes de conferir sugestões de atividades para cada nível de escrita, veja quais intervenções são relevantes para a turma como um todo.

Independentemente de cada nível de escrita, algumas intervenções ajudam as crianças a avançarem em suas hipóteses. Confira!

1 – Disponibilize materiais de suporte na sala de aula, como lista de nomes dos alunos da turma, cartaz de rotina, dos dias da semana, banco de palavras etc. Assim, os alunos podem observar a quantidade de letras, sílabas e também utilizar como consulta no momento da escrita.

Por exemplo, para escrever “dado” observam que o nome do colega “Davi” começa com o mesmo pedacinho. 

2 – Realize agrupamentos ou duplas produtivas para que as crianças tomem decisões conjuntas sobre como escrever.

3 – Crie contextos significativos de produção escrita, para que os alunos se envolvam nas atividades. Isto é, contextos reais que despertam o interesse da turma.

4 – Circule entre os grupos, realizando perguntas e oferecendo apoio. Questione aos alunos sobre suas decisões ao escrever, ou seja, por que escreveram de determinada maneira. Dessa forma, é possível compreender melhor o pensamento deles sobre a escrita.

5 – Ajude as crianças a retomar as escritas, trazendo possibilidades de observações que não realizaram quando escreveram.

6 – Ensine os alunos a revisar e ajustar a escrita a partir das problematizações realizadas. Eles precisam adquirir autonomia.

7 – Problematize as produções escritas. Sem julgar se está certo ou errado. Devolva para o grupo a reflexão, pedindo que voltem a escrever. Apoie o uso de palavras de suporte dos cartazes afixados na sala de aula.

É importante validar a escrita das crianças, mesmo que não esteja de acordo com a escrita convencional. Pois, elas estão em processo de compreensão sobre as propriedades do sistema de escrita e cada pequeno avanço é uma grande conquista!

8 – Registre as observações e reflexões na lousa para que todos os grupos possam ter acesso.

9 – No final da atividade, revise com os alunos o que já aprenderam e refletiram. Encoraje-os e valorize seus avanços.

Uma possibilidade interessante é organizar momentos em que as duplas ou grupos apresentam suas escritas para o restante da turma e conversam sobre suas produções.

10 – Avalie como o estudante realizou suas escritas e como aconteceram as interações com os colegas, para que ajustes sejam realizados quando necessário.

11 – A consciência fonológica deve ser trabalhada sempre, em todos os níveis de escrita.

Sugestões de atividades para cada nível de escrita

Agora, vamos falar sobre atividades para intervir em cada hipótese de escrita.

Lembrando que não se trata de uma metodologia engessada para cada hipótese, mas sim possibilidades de intervir para ajudar cada aluno a avançar a partir dos conhecimentos prévios.

Atividades para nível pré-silábico

Primeiramente, a criança precisa aprender a ouvir. Para aprimorar a discriminação auditiva, você pode fazer brincadeiras para as crianças identificarem por exemplo, de onde veio o som. 

Além disso, precisamos mostrar que a escrita representa os sons da fala e não o objeto.

Nessa etapa, a criança precisa de estímulos para superar o realismo nominal (quando acredita que palavras pequenas ou com poucas letras servem para nomear objetos pequenos, enquanto palavras grandes ou com muitas letras servem para nomear objetos grandes).

Também é preciso desenvolver a consciência da palavra. Ou seja, precisamos auxiliar o aluno a perceber que a frase é um todo, que pode ser desenvolvido em pedaços menores, que são as palavras. 

Assim, a criança já deve ser estimulada também a perceber os sons da fala.

Ao realizar uma sondagem de escrita, é necessário pedir que o aluno leia o que escreveu para confirmar a hipótese que ele está formulando sobre a escrita.

Agora, vamos conferir sugestões de atividades para que o aluno consiga avançar a partir do nível pré-silábico:

    • Realizar rodas de leitura diárias: Durante a leitura, mostrar o sentido da leitura, para que as crianças compreendam que lemos da esquerda para a direita, de cima para baixo.

    • Trabalhar o reconhecimento visual pictográfico: preparar imagens de um mesmo campo semântico para verificar se os alunos conseguem reconhecer, nomear e classificar.

    • Completar as palavras com a letra inicial.

    • Pintura e modelagem com determinada letra.

    • Caixa de areia para escrever letras.

    • Completar as palavras com as vogais faltantes.

    • Brincadeiras para separar letras de números.

    • Atividades de análise fonológica para ajudar as crianças a perceber que palavras que começam com o mesmo som (aliteração) ou terminam com o mesmo som (rima), podem ser escritas com o mesmo grupo de sílabas ou letras.

    • Explorar oralmente e de forma escrita, poemas, trava-línguas, parlendas e outros textos que facilitam a exploração de sons iniciais e finais.

    • Trabalhar com palavras estáveis como os nomes dos alunos da turma ou banco de palavras de alguma história que as crianças gostaram.

    • Brincar de pareamento de letras e imagem cujo nome começa com determinado som.

    • Alfabeto móvel.

    • Ligar as figuras às letras iniciais correspondentes.

    • Escrever as vogais faltantes.

    • Analisar palavras conhecidas quanto à quantidade de letras, sílabas, consoantes, vogais.

    • Corrida silábica.

    • Batalha de palavras.

    • Brincadeiras com rimas.

Para trabalhar a consciência de palavras

    • Atividades para identificar a palavra maior ou menor.

    • Atividades lúdicas para encontrar palavras com determinada quantidade de letras.

    • Colorir os espaços entre as palavras de uma frase.

    • Colorir um quadradinho para cada palavra de uma frase.

Atividades para nível silábico

Para que as crianças possam ampliar o nível silábico, é importante estimular a consciência de sílabas.

Você pode estimular as crianças a contar as sílabas de determinada palavra e marcar a quantidade, seja colorindo ou utilizando material concreto.

Para os alunos do nível silábico sem valor sonoro, trabalhar bastante os sons das vogais. Isso pode incluir treinar as vogais no espelho, atividades para completar com as vogais faltantes, brincadeiras, músicas etc.

As sugestões seguintes podem ser aplicadas aos níveis silábico sem valor sonoro e silábico com valor sonoro.

    • Refletir que a sílaba não é a menor unidade de uma palavra e que ela é constituída de partes menores (os fonemas).

    • Atividades para contar o número de sílabas de uma palavra: utilizar movimentos corporais como bater palmas, contar com os dedos ou “guardar os sons”.

    • Mostrar figuras para que as crianças identifiquem quais começam “parecido”, isto é, com o mesmo som.

    • Brincadeiras para identificar palavras dentro da palavra.

    • Formar novas palavras adicionando ou subtraindo fonemas. Por exemplo: GALINHA – GA = LINHA; CASA + CO = CASACO.

    • Encontrar em parlendas palavras com “1 sílaba”, “2 sílabas”, e assim por diante.

    • Comparar palavras para encontrar qual sílaba é diferente. Por exemplo: CANECA e CANETA.

    • Formar novas palavras trocando a ordem das sílabas. Por exemplo: BOLO – LOBO

    • Dizer ou escrever palavras que começam com determinada sílaba.

    • Priorizar textos com sonoridade como parlendas, trava-línguas e pequenos poemas.

    • Escrita espontânea.

    • Ditados e autoditados.

    • Continuar o trabalho com palavras estáveis, mas em um nível de desafio maior. Por exemplo, propor que escrevam palavras que possuem os mesmos “pedacinhos” (sílabas) encontrados no nome dos colegas.

    • Bingo das sílabas.

    • Cruzadinhas.

    • Formar palavras através de códigos ou cores.

    • Pintar as sílabas que formam determinada palavra.

Atividades para nível silábico-alfabético

No nível silábico-alfabético é preciso estimular a consciência do fonema. A base do princípio alfabético é compreender que cada letra tem um som.

Nesse sentido, é fundamental estimular as crianças a ouvir, identificar e manipular cada fonema dentro das palavras.

    • Trabalhar com textos que as crianças saibam de cor;

    • Produção de textos de forma coletiva e colaborativa;

    • Banco de palavras;

    • Reconto de histórias.

    • Escrita espontânea.

    • Cruzadinhas.

    • Montar palavras com alfabeto móvel.

    • Jogo prendendo sílabas com sílabas complexas.

    • Produção de textos coletivos e individuais.

    • Reescrita de histórias.

    • Cartas enigmáticas.

Atividades para nível alfabético

Neste nível de escrita, é fundamental trabalhar a análise linguística de bons textos, ensinar estratégias para aprimorar a leitura.

Neste momento em que os alunos estão em uma fase da escrita alfabética, deve-se começar o trabalho de reflexão ortográfica, uma vez que o próximo nível a ser alcançado é da escrita ortográfica. Também é o momento adequado para trabalhar o traçado da letra cursiva.

    • Fazer um banco de palavras e em seguida, produzir um texto coletivo explorando as palavras.

    • Nomes próprios e palavras estáveis como suporte à escrita de novas palavras e de reflexão sobre as regularidades da língua.

    • Reconto escrito de histórias.

    • Confecção de um dicionário ilustrado.

    • Textos fatiados.

    • Atividades de completar frases ou pintar a palavra que completa corretamente a frase.

    • Pintar os espaços entre as palavras (para trabalhar a segmentação).

    • Jogos e brincadeiras que reforcem as regras ortográficas.

  • No caderno do estudante, marcar com marca-texto as palavras que estão escritas erradas ortograficamente. Escrevê-las corretamente na lousa para que as crianças comparem com suas escritas e façam a correção.

    Como agrupar os alunos considerando os níveis de escritas

    Agrupar os alunos de acordo com as hipóteses de escrita é uma estratégia relevante por dois motivos. 

    Primeiro, facilita a organização de atividades diferentes, personalizadas de acordo com as necessidades dos alunos. Pois assim, cada grupo ou dupla pode fazer uma atividade adequada ao nível de aprendizagem que está.

    Segundo, os agrupamentos permitem interações entre os alunos. Dessa forma, eles podem trocar saberes, complementar o que já sabem individualmente e avançar.

    Para fazer os agrupamentos produtivos, é interessante que os estudantes sejam agrupados por habilidades próximas. Quando as habilidades são diferentes, mas próximas, acontece a troca entre os pares, já que um colega pode contribuir com a reflexão do outro.

    As duplas ou grupos não precisam ser fixos. É interessante fazer revezamento para garantir que cada aluno, ora esteja auxiliando o colega, ora seja auxiliado por outro colega. 

    Aliás, sempre é bom fazer ajustes quando houver necessidade, com base na avaliação e acompanhamento das aprendizagens.

    Possibilidades de duplas ou agrupamentos de acordo com o nível de escrita

    Escrita pré-silábica + escrita silábica sem valor sonoro

    Esse agrupamento é produtivo porque o aluno de escrita silábica sem valor sonoro pode ajudar o aluno que está no nível pré-silábico a entender que existe uma variedade de letras que podem ser utilizadas para compor palavras e que estas palavras são compostas de “pedacinhos menores” (as sílabas).

    Escrita pré-silábica + escrita silábica com valor sonoro

    Nesse agrupamento, o aluno de escrita silábica com valor sonoro pode auxiliar o colega de escrita pré-silábica a refletir sobre a relação entre fala e escrita.

    Escrita silábica sem valor sonoro + escrita silábica com valor sonoro

    Esse agrupamento é produtivo porque o aluno que já compreende o valor sonoro pode auxiliar seu colega a desenvolver a consciência fonológica.

    Escrita silábica com valor sonoro + escrita silábica-alfabética

    Como os alunos deste agrupamento escrevem de forma diferente a mesma palavra, eles podem ser desafiados a trocar conhecimentos de forma produtiva. Sendo assim, o aluno que está no nível silábico-alfabético pode ajudar o colega a compreender que para escrever uma sílaba são necessárias mais letras.

    Escrita silábica-alfabética + escrita alfabética

    O aluno que está no nível alfabético já compreendeu as características do sistema de escrita e pode contribuir muito com a aprendizagem do colega que está no nível silábico-alfabético.

    Alunos de escrita alfabética no mesmo agrupamento

    Para fazer atividades voltadas à ortografia, segmentação do texto, produção de textos, reconto escrito, entre outras, os alunos que estão no nível de escrita alfabética podem fazer parte de um mesmo grupo.

    Conclusão

    As hipóteses de escrita apresentadas por Emília Ferreiro e Ana Teberosky são um marco na alfabetização e contribuem muito com o trabalho de alfabetização.

    A partir destes estudos, compreendemos melhor como os alunos pensam sobre a escrita. O que nos leva a perceber também os diferentes ritmos de aprendizagem.

    Uma vez que conhecemos as hipóteses de escrita dos estudantes, precisamos preparar atividades para cada nível de escrita, as quais ofereçam estímulos para cada aluno avançar a partir do que já sabe.

    Sendo assim, é preciso oferecer atividades diferentes para estudantes que apresentam hipóteses de escrita diferentes.

    Uma estratégia relevante para aplicar essas atividades diversificadas é fazer agrupamentos produtivos. É praticamente impossível uniformizar e por isso, é preciso ter propostas para atender cada grupo de alunos.

    Independentemente do nível de escrita em que o aluno se encontra, um detalhe nunca pode faltar: a consciência fonológica. É imprescindível estimular a consciência fonológica para ter sucesso no ensino da leitura e da escrita.

    Leia também:

    Para facilitar todo o trabalho de agrupamento produtivo e planejamento das atividades para cada nível de escrita, é preciso ter todos os resultados da sondagem de escrita registrados e organizados.

    Uma planilha para registrar as hipóteses de escrita facilita muito esse processo. Clique no botão abaixo para conferir um artigo sobre planilhas de Avaliação Diagnóstica.

    Crédito das Imagens: Canva

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