Precisando de ideias para planejar atividades de intervenção pedagógica na leitura e escrita? Confira agora várias sugestões.
Se você chegou até esse post já sabe o quanto a intervenção pedagógica na leitura e escrita é relevante. Por inúmeros fatores, muitos alunos saem dos anos iniciais sem saber ler e escrever com autonomia.
Atualmente, percebemos que as atividades que envolvem memorização de conteúdos, repetição de palavras, frases e textos descontextualizados, não trazem sucesso para a alfabetização.
Para os alunos com dificuldade de aprendizagem é ainda mais difícil ter avanços a partir de atividades tradicionais.
Sendo assim, é indispensável pensar em atividades significativas, contextualizadas e instigantes para realizar a intervenção pedagógica na leitura e escrita.
Porém, não é fácil encontrar boas ideias de atividades diferenciadas e que funcionam na prática, com resultados. Por isso, reuni nesse post, sugestões de atividades que contribuem, de maneira efetiva, com a aprendizagem da leitura e escrita.
Como fazer o planejamento das atividades de intervenção pedagógica na leitura e escrita
Para iniciar o planejamento da intervenção pedagógica na leitura e escrita, é preciso refletir sobre alguns aspectos importantes. Na alfabetização, em algumas situações didáticas, o professor precisa atuar como mediador e em outras, incentivar as crianças a interpretar e produzir textos com autonomia.
Nesse sentido, é a partir das experiências com a leitura e escrita que as crianças vão desenvolver essas habilidades. Assim, não é preciso esperar que as crianças aprendam a ler e escrever convencionalmente para apresentar livros, atividades com textos, pois é justamente esse contato que vai garantir uma alfabetização significativa.
Ao invés de propor atividades de escrita de palavras, frases e textos sem sentido, apresente um propósito comunicativo. Antigamente, era comum exercícios tais como: forme frases com…, escreva um texto sobre… Sabe aquela impressão de que esse tipo de saber a gente só usa na escola?
Pois é, então aproveite essa ação de intervenção pedagógica para propor atividades diferenciadas e mostrar aos alunos que eles vão aprender a ler e escrever não somente para usar na escola, mas para lidar com as situações cotidianas da vida.
Muitos estudos mostram que para aprender é preciso atribuir significado ao que se aprende. Muitas vezes, a dificuldade de aprendizagem pode estar relacionada a essa falta de sentido para o que se aprende na escola.
Outro ponto bastante importante é incentivar interações, fazer atividades em grupos que tem como critério o nível de aprendizagem, circular entre os alunos e fazer questionamentos para incentivar o avanço em suas hipóteses.
A seguir, confira sugestões de atividades com base nas modalidades organizativas sugeridas por Délia Lerner e nos estudos de Nery (2007).

Atividades permanentes para intervenção pedagógica na leitura e escrita
Planeje atividades que podem ser feitas com regularidade, por exemplo, todos os dias, uma vez por semana, de quinze em quinze dias ou todos os meses. Elas ajudam os alunos a terem mais familiaridade e um contato mais intenso com um conteúdo.
Para realizar uma intervenção pedagógica na leitura e escrita através de atividades permanentes, você pode propor leitura diária, rodas de conversa, rodas de leitura, palavra do dia, entre outras.
Leitura diária pelo professor
As crianças aprendem muito vendo o comportamento do professor enquanto leitor, observando as características de cada gênero, a linguagem utilizada nos livros. Você pode selecionar livros ou textos de um gênero específico para ler durante a semana ou ainda de um tema comum.
Também pode tanto realizar a leitura do livro todo, quanto ler cada dia um capítulo, criando um suspense sobre a história.
Para essa atividade, não precisa necessariamente envolver atividades escritas sobre os livros lidos. A linguagem oral também deve ser privilegiada na escola. Sendo assim, realize uma conversa antes, durante e depois da história.
Ensine os alunos a observarem a capa, ilustrações, fazerem previsões sobre o que irá acontecer, comparar com outras histórias conhecidas. Isso ajudará na compreensão da leitura.
Além disso, organize os alunos em círculo e permita um espaço acolhedor, aconchegante, para que todos esperem ansiosos pela hora da história.
Rodas de leitura
Essa proposta se refere a momentos planejados em que os próprios alunos leem os livros. Mesmo sem saber ler convencionalmente, é muito importante que as crianças manipulem os livros.
Aqui não é preciso ler para depois fazer resumos, interpretações de textos, entre outras. O legal é ler por ler, encontrar prazer na leitura, que por si só já traz tantos conhecimentos.

Palavra do dia
Fazer um painel de palavra do dia é uma atividade muito interessante e que conquistou muitas professoras. Se a maioria dos alunos ainda não consegue ler e escrever convencionalmente, embora esteja no 3º, 4º ou 5º ano, vale à pena retomar essa prática.
Você pode iniciar a aula, escolhendo ou permitindo que os próprios alunos escolham uma palavra para analisar a quantidade de letras, sílabas, falar os fonemas separadamente, qual a letra inicial, letra final, consoantes, vogais ou ainda aplicar a palavra em frases.
Uma boa ideia é usar um mural com espaços de escrita plastificados com vinil adesivo, para escrever com pincel e apagar com um paninho. Quando o painel é colorido, chamativo, as crianças se envolvem ainda mais com a proposta.
Convide os alunos que estão com dificuldade para participarem e escreverem no painel, claro, desde que não traga constrangimento para eles.
Rodas de conversa
Propor rodas de conversa toda semana é enriquecedor. Diante de tanta pressão por “encher os cadernos”, deixamos de privilegiar esses momentos. Com isso, perdemos grandes oportunidades de ensino e aprendizagem.
Vou citar dois motivos para você fazer rodas de conversa, claro que existem outros. O primeiro é que a linguagem oral também é muito importante e os alunos precisam ser preparados para situações de oralidade. O segundo é que as rodas de conversa são uma excelente ferramenta para trabalhar as habilidades socioemocionais.
Assim, é um momento para promover interação entre os alunos, compartilhar aprendizagens, avanços e dificuldades, discutir sugestões para as aulas, projetos. Enfim, é um tempo curto, de 15 a 30 minutos, que pode ser bem aproveitado.
Sequências didáticas com atividades para intervenção pedagógica na leitura e escrita
Quando propomos intervenção pedagógica diante de uma dificuldade de aprendizagem de um grupo de alunos ou de toda a turma, apenas uma aula não é suficiente.
Gosto das sequências didáticas porque elas permitem atividades organizadas em uma determinada sequência, durante um período, que pode ser uma semana ou até um mês.
E também, porque as atividades da SD seguem níveis de dificuldade, ou seja, começam mais fáceis e aumentam a complexidade conforme as etapas.

Sugestões de temas para sequências didáticas na leitura e escrita
- Estudo sobre um autor;
- Estudo de um gênero literário. Exemplo: receita, fábula, carta, notícia, conto;
- Atividades com o nome próprio;
- Exploração de parlendas;
- Atividades sobre adivinhas.
Como fazer projetos didáticos para intervenção pedagógica na leitura e escrita
Os projetos começam com uma situação-problema e culminam em um produto final, que pode ser, por exemplo, um livro, uma exposição, um manual, uma apresentação teatral, um vídeo, um podcast.
Dessa forma, os projetos são muito interessantes para envolver atividades de intervenção pedagógica na leitura e na escrita. Tendo em vista um produto final, os estudantes aprendem a ler e escrever em situações reais, significativas. Eles têm consciência do contexto de produção, quem é o interlocutor, qual o propósito das atividades em cada etapa do projeto.
Sugestões de temas para projeto
· Confecção de um livro de receitas tradicionais da comunidade;
· Produção de um livro de rimas;
· Confecção de convites para eventos na escola;
· Escrita de indicações literárias dos livros que mais gostaram de ler nas rodas de leitura;
· Varal de poesias;
· Cartilha informativa sobre dengue, cuidados com a saúde ou descarte correto do lixo;
· Produção de cartazes diversos.
Você também vai gostar de ler: Descubra um projeto de leitura que vai potencializar suas ações de intervenção pedagógica e recomposição da aprendizagem
Jogos que ajudam na intervenção pedagógica na leitura e escrita
Os jogos ajudam muito na intervenção pedagógica na leitura e escrita. Aprender brincando é uma maravilha!
Uma vez que os jogos prendem a atenção, estimulam o raciocínio, são manipuláveis, eles ajudam muito os alunos que estão com dificuldades em aprender ler e escrever.
Vale ressaltar que muitos alunos não desenvolverem a consciência fonológica e por isso, encontram dificuldades.
Crianças com dificuldades em consciência fonológica geralmente apresentam atraso na aquisição da leitura e escrita, e procedimentos para desenvolver a consciência fonológica podem ajudar as crianças com dificuldades na escrita a superá-los (Capovilla e Capovilla, 2000).
Diante dessa observação, trago a seguir algumas sugestões de jogos para desenvolver a consciência fonológica com base em Silva (2021).
Intervenção pedagógica no domínio da consciência fonológica
· Jogos de rimas
Prepare cartas com palavras e desenhos correspondentes. Dentre 3 cartas, o jogador deve descobrir as duas que contêm palavras que rimam.
· Jogo de síntese silábica
Diga cada sílaba, devagarinho, para que as crianças descubram qual é a palavra.
· Jogo de segmentação silábica
Você pode fazer um jogo de trilha em que cada jogador anda a quantidade de casas correspondente à quantidade de sílabas de uma palavra sorteada. Ou ainda brincar com os nomes dos estudantes, em que eles devem encontrar colegas que tenham o mesmo número de sílabas no nome.
Também fica muito legal pendurar plaquinhas com palavras diferentes no pescoço dos alunos. O objetivo é encontrar os colegas que têm palavras com a mesma quantidade de sílabas de sua própria plaquinha.
· Jogos de identificação de sílabas iniciais
Em um jogo de cartas com palavras e desenhos, os alunos podem agrupar palavras que têm a mesma sílaba inicial. Ou você pode dizer uma palavra e eles devem encontrar cartas que correspondem a mesma sílaba inicial da palavra ditada.
· Jogos de manipulação
Esses jogos de manipulação são muito divertidos. O objetivo pode ser juntar uma sílaba à uma palavra e encontrar uma nova palavra. Por exemplo: MA + CACO forma MACACO.
Ou omitir uma sílaba da palavra para encontrar uma nova palavra. Por exemplo: SOLDADO tiro o SOL fica DADO.
· Jogos de síntese fonêmica
Fale os fonemas, bem devagar, para que as crianças descubram qual é a palavra.
· Jogos de segmentação fonêmica
O objetivo é contar o número de fonemas de uma palavra. Os jogadores tiram uma carta e quem tiver a carta com o maior número de fonemas vence a rodada.
· Jogos de manipulação fonêmica
Nesses jogos os alunos vão se divertir suprimindo ou adicionando fonemas.
Por exemplo: CHUVA tiro o CH. Qual palavra formou? UVA, UNHA OU ILHA?
Nessa proposta é interessante o professor falar os fonemas em voz alta e os estudantes escolherem a opção de resposta.
Conclusão
Como vimos, as atividades de intervenção pedagógica na leitura e escrita precisam ser diferenciadas e instigantes e por isso, contextualizadas. Aliás, todas as atividades da rotina escolar deveriam ser!
Mas, principalmente para esses alunos que estão tendo dificuldade em aprender a ler e escrever, é fundamental despertar a atenção, mostrar que esse aprendizado não é distante da realidade do nosso dia a dia, convencer que aprender também pode ser divertido.
Enfim, você pode escolher entre atividades permanentes, sequências didáticas, projetos ou jogos pedagógicos. Porém, o ideal é utilizar diferentes modalidades organizativas para enriquecer a intervenção pedagógica. Tudo vai depender do diagnóstico de aprendizagem, do tempo disponível e dos objetivos pretendidos.
Para saber mais sobre diagnóstico de aprendizagem, leia também: Como realizar diagnósticos de aprendizagem dos alunos
Referências
CAPOVILLA, A. G. S.; CAPOVILLA, F.C. Alfabetização: Método Fônico. São Paulo: Memnon, 2007.
NERY, Alfredina. Modalidades organizativas do trabalho pedagógico: uma possibilidade. Brasília: MEC/SEB, 2007.
SILVA, Ana Cristina. Consciência fonológica e conhecimento das letras. In: ALVES, Rui A; LEITE, Isabel. Alfabetização Baseada na Ciência. Brasília: Ministério da Educação, 2021, p. 220-244.