O que é metacognição na aprendizagem e como trabalhá-la na intervenção pedagógica?

A metacognição faz parte do conceito de autorregulação e é uma dimensão básica da aprendizagem. Por isso é muito importante trabalhar as estratégias metacognitivas na intervenção pedagógica. Conheça mais sobre a metacognição e descubra várias sugestões para colocar esse conhecimento em prática.

Olá! Que bom ter você aqui!

Seus alunos apresentam muita dificuldade em protagonizar a própria aprendizagem, avaliar o próprio desempenho, entender onde podem melhorar, buscar novas estratégias?

Eles esperam respostas prontas?

Infelizmente, isso é muito comum nas salas de aula.

Sabemos que os estudantes que não conseguem utilizar estratégias de aprendizagem, têm o desempenho acadêmico comprometido. Uma das estratégias fundamentais para aprendizagem eficaz é a metacognição.

Além de ajudar os alunos na aprendizagem, é uma maneira eficiente de os professores avaliarem como os alunos estão aprendendo para assim, apoiá-los em suas necessidades.

Neste post, você vai descobrir o que significa metacognição, por que ela é importante para a aprendizagem e como você pode trabalhá-la na intervenção pedagógica.

O que é metacognição na aprendizagem?

Uma definição comum para metacognição é “pensar sobre o próprio pensamento”. Mas, ela é mais ampla do que isso, pois é também uma forma de autorregulação.

É a capacidade de planejar, monitorar, ter autoconsciência, senso crítico e fazer mudanças nos próprios comportamentos para avançar na aprendizagem.

Sendo assim, as habilidades metacognitivas potencializam a maneira como o aluno aprende.

Lombardi, Santos e Goés (2022) descrevem a classificação de Cohen (2012) sobre as estratégias de aprendizagem:

  • estratégias cognitivas: são utilizadas para entender os conteúdos, reorganizar as informações e para reter esses conhecimentos na memória.
  • estratégias metacognitivas: incluem a capacidade de gerenciar e regular o uso de estratégias de aprendizagem, de modo consciente, em diferentes situações.
  • estratégias afetivas: relacionam-se à consciência sobre as emoções e a ação de tomar atitudes necessárias para controlar essas emoções e sentimentos.
  • estratégias sociais: estão relacionadas à comunicação do indivíduo com as pessoas. Por exemplo, pedir ajuda quando está com dúvidas ou participar de um grupo de estudos para aprender mais e melhor.

Ganda e Boruchovitch (2018) definem que:

  • Estratégias cognitivas: são usadas para facilitar o armazenamento das informações. Por exemplo, sublinhar, fazer resumos, mapas conceituais, elaborar perguntas e respostas sobre o tema.
  • Estratégias metacognitivas: são usadas para planejar, monitorar e regular o ato de aprender. Por exemplo, organizar um ambiente de estudo, fazer um plano de atividades semanais, analisar se está compreendendo o assunto lido e pedir ajuda a um colega.

Sendo que, segundo as autoras, as estratégias cognitivas e metacognitivas são dimensões básicas da aprendizagem que fazem parte do conceito de autorregulação, juntamente com outras dimensões: a motivacional, a emocio­nal/afetiva e a social.

Os estudos fazem essa classificação para que compreendamos melhor a diferença entre as estratégias cognitivas e as estratégias metacognitivas.

No entanto, uma não é mais importante do que a outra. Também, não significa que vamos escolher trabalhar a metacognição e esquecer da cognição, pois para ajudar na melhoria do ensino e aprendizagem, as duas estratégias devem ser trabalhadas em conjunto.

Aluna pensativa, segurando uma caneta. Sobre a mesa há uma folha branca. A imagem ilustra como a metacognição é importante para superar as dificuldades de aprendizagem.

Por que a metacognição é importante para alunos com dificuldades de aprendizagem?

Lombardi, Santos e Goés (2022, p.3) mencionam vários estudos que afirmam que as intervenções em estratégias de aprendizagem:

  • ajudam os alunos a apropriarem-se de conhecimentos, que os auxiliarão em diversas situações de aprendizagem ao longo de toda a sua vida;
  • objetivam progredir o conhecimento do estudante sobre esse construto, com isso, auxiliar para que ele as aplique de forma adequada;
  • devem contribuir com o progresso do autoconhecimento e a autorregulação da aprendizagem do estudante.

Santos, Oliveira e Saad (2021) analisaram as estratégias metacognitivas, especificamente, no processo de ensino e aprendizagem da matemática.

Os autores concluíram que 

“em face aos estudos sobre a Metacognição, faz-se necessário, durante as aulas e intervenção pedagógica em Matemática, o estímulo das estratégias metacognitivas para que os alunos possam desenvolvê-la, pois, a aprendizagem metacognitiva não advém naturalmente” (Santos; Oliveira; Saad, 2021, p. 32-33)

Eles ressaltam que as estratégias metacognitivas são uma das possibilidades do aluno desenvolver um conhecimento explícito das estratégias específicas que utilizarão nas diferentes situações de aprendizagem, problematização e cálculos.

Muitos alunos enfrentam dificuldades não apenas por lacunas, mas porque não sabem como aprender. Eles não têm clareza sobre o que já dominam, onde erram ou como melhorar.

É exatamente aí que a metacognição se torna essencial.

A metacognição permite que o aluno:

  • Reconheça suas limitações e potencialidades.
  • Faça escolhas mais conscientes de estratégias de estudo.
  • Planeje, monitore e avalie seu próprio desempenho.

Para alunos com dificuldades de aprendizagem, isso significa sair de um estado de passividade (esperar que o professor diga o que fazer) para uma postura mais ativa e autorreflexiva.

Menina sorridente sentada a uma mesa amarela com caderno aberto, segurando um lápis e levantando o dedo indicador como se tivesse tido uma ideia. Ao lado, há livros empilhados e um porta-canetas. A imagem ilustra a importância da metacognição para desenvolver autonomia dos alunos.

Em vez de apenas repetir atividades, eles aprendem a observar o próprio processo de aprendizagem, o que aumenta a eficácia das intervenções pedagógicas e promove maior autonomia e motivação.

Além disso, alunos que desenvolvem habilidades metacognitivas tendem a:

  • Reter melhor o conteúdo estudado.
  • Compreender com mais profundidade.
  • Ser mais resilientes diante de erros, pois aprendem a encará-los como parte do processo.

A intervenção pedagógica é o momento ideal para ensinar o aluno a pensar sobre como ele aprende.

Mais do que repetir exercícios, é importante que ele compreenda por que está errando, como pode corrigir-se e que estratégias pode testar. Veja a seguir como aplicar isso na prática:

Como trabalhar a metacognição durante a Intervenção Pedagógica?

Estamos acostumadas a buscar inúmeras estratégias de ensino para planejar nossas intervenções pedagógicas.

Mas, você já parou para pensar o quanto é importante ensinar estratégias de aprendizagem?

Parece complicado ensinar outra pessoa a “pensar sobre o próprio pensamento”, mas é necessário, pois sem o ensino explícito as crianças não desenvolvem essa capacidade naturalmente.

Para isso, vamos apresentar algumas dicas e possibilidades práticas para você perceber que é possível ensinar estratégias metacognitivas para seus alunos.

1.      Modelagem do pensamento (thinking aloud)

Se copiamos as respostas das atividades no quadro para que os alunos possam corrigir, como aqueles que têm dificuldade e que não conseguiram resolver a questão, vão entender como a professora ou os colegas pensaram para chegar à resposta correta?

Parece difícil, não é mesmo?

Uma dica é você verbalizar seu pensamento, para ser um modelo para as crianças.

Durante uma atividade, “pense alto” para mostrar ao aluno como você planeja, escolhe estratégias e confere se está no caminho certo.

Exemplo: “Vou reler esse trecho porque não ficou claro pra mim… Ah, agora entendi que…”

Também em matemática, essa é uma ótima estratégia. Você pode “pensar em voz alta” o passo a passo de resolução de algum problema. 

Outra possibilidade é convidar os alunos também para verbalizarem para seus colegas como pensaram a resolução de uma atividade.

Assim, aos poucos, os alunos que estão passando por alguma dificuldade de aprendizagem, vão aprendendo a gerenciar o próprio pensamento para realizar as atividades com autonomia.

2.      Intervenção em etapas

Planeje as aulas de intervenção em etapas:

Antes da atividade: Faça uma introdução da atividade e realize alguns questionamentos para mobilizar os conhecimentos prévios sobre o assunto, como por exemplo, aulas ou atividades anteriores, situações vivenciadas no cotidiano, entre outros.

Ajude os alunos a definirem metas de aprendizagem e planejar como podem alcançar essas metas e quais estratégias usarão.

Durante a atividade: Incentive os estudantes a monitorar o progresso da atividade. Por exemplo, utilizar rubricas para avaliar

  • se a estratégia que escolheram está funcionando,
  • se alguma parte está confusa,
  • se é necessário mudar as estratégias,
  • quais são os próximos passos.

Depois da atividade: reserve um tempo para os alunos revisarem:

  • o que aprenderam,
  • o que deu certo,
  • o que não deu certo,
  • o que podem fazer de diferente da próxima vez,
  • quais foram os avanços.

3.      Diários de aprendizagem

Convide o aluno a registrar em poucas linhas:

  • O que foi mais fácil de aprender
  • Quais dificuldades teve durante a semana
  • Quais estratégias ajudaram
  • Quais avanços percebeu
  • Quais dúvidas ainda têm
  • O que pode ser melhorado para a próxima semana

Isso ajuda a consolidar o hábito da autorreflexão.

4.      Gráficos KWL

Outra ideia é criar um gráfico para os alunos usarem para responder às seguintes perguntas:

  • O que eu sei? (Antes de iniciar a atividade, o aluno lista o que sabe sobre assunto).
  • O que eu quero saber? (O aluno registra o que quer aprender ou descobrir: perguntas, dúvidas, curiosidades).
  • O que eu aprendi? (Após o término da atividade, o aluno lista o que aprendeu, descobertas interessantes, se as dúvidas foram sanadas e os conhecimentos adquiridos).

5.      Rubricas de aprendizagem

As rubricas são tabelas, em que nas linhas colocamos os objetivos de aprendizagem ou competências a serem desenvolvidas.

Já nas colunas, colocamos níveis, começando pelos níveis insatisfatórios até os esperados.

Assim, tanto durante o processo de realização de uma atividade, quanto no final, o aluno pode fazer uma autoavaliação, indicando em que nível considera estar.

6.      Parar para refletir

Após uma atividade, reserve um tempo para conversar com o aluno sobre o processo. Evite focar apenas na nota ou acerto — pergunte como ele chegou à resposta.

Parabenize o estudante pelo esforço. Ensine-o a refletir sobre o erro e considerar que errar faz parte do “aprender”.

7.      Atividades desafiadoras

As atividades em que as respostas estão “escancaradas” não desafiam os estudantes. Isso não significa que as atividades devem ser difíceis para o nível de aprendizagem de determinado aluno.

Mas que estimulem o pensamento, possibilitem o uso de diferentes estratégias e mobilizem a criatividade.

8.      Trabalhos em grupos

Por meio dos trabalhos em grupos, os alunos podem fazer perguntas, explicar o próprio raciocínio, ouvir as contribuições dos colegas, enfim, interagir de muitas maneiras.

Conclusão

Vale ressaltar a importância do ensino de estratégias metacognitivas, pois o aluno irá aprender com a mediação dos professores e não naturalmente.

Como vimos, a metacognição é uma ferramenta poderosa na superação das dificuldades de aprendizagem. Por isso, é muito relevante na intervenção pedagógica.

Agora que você conheceu algumas possibilidades, comece com uma estratégia simples e observe os resultados.

Referências

GANDA, D. R.; BORUCHOVITCH, E. A autorregulação da aprendizagem: principais conceitos e modelos teóricos. Psic. da Ed., São Paulo, 46, 1º sem. de 2018, pp. 71-80. Disponível em: https://revistas.pucsp.br/index.php/psicoeduca/article/view/39147. Acesso em 16 jul. 2025.

FABRI, N. B. et al.. Autorregulação, estratégias de aprendizagem e compreensão de leitura no Ensino Fundamental I. Revista Brasileira de Educação, v. 27, p. e270068, 2022. https://www.scielo.br/j/rbedu/a/JnbTKYQLB85GTSsWJvpsWVP/?lang=pt

LOMBARDI, NH de S.; SANTOS, DA dos; GÓES, NM. Estratégias de ensino de aprendizagem nos Anos Iniciais do Ensino Fundamental: uma análise exploratória. Pesquisa, Sociedade e Desenvolvimento , [S. l.] , v. 12, pág. e350111234628, 2022. DOI: 10.33448/rsd-v11i12.34628. Disponível em: https://rsdjournal.org/index.php/rsd/article/view/34628. Acesso em: 9 jul. 2025.

SANTOS, Anderson Oramisio; OLIVEIRA, Guilherme Saramago de; SAAD, Núbia dos Santos. A METACOGNIÇÃO E ESTRATÉGIAS METACOGNITIVAS NO PROCESSO DE ENSINO E APRENDIZAGEM DA MATEMÁTICA. Revista Valore, [S. l.], v. 6, p. 23–39, 2021. DOI: 10.22408/reva602021103523-39. Disponível em: https://revistavalore.emnuvens.com.br/valore/article/view/1035. Acesso em: 9 jul. 2025.

Crédito das Imagens: Canva

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