Você já parou para pensar o quanto as competências socioemocionais na escola podem ajudar os alunos a superarem as dificuldades de aprendizagem? Te convido a refletir sobre isso, conhecer mais sobre as competências socioemocionais, além de conferir várias sugestões para colocar em prática na intervenção pedagógica.
Olá! Que bom ter você aqui!
A intervenção pedagógica abrange estratégias para ajudar os estudantes a superarem as dificuldades de aprendizagem. Além de buscar melhorias para o processo de ensino.
Quando estamos planejando intervenções pedagógicas, nossa tendência é pensar na dimensão cognitiva, em como vamos facilitar a compreensão dos conteúdos.
Mas, as habilidades socioemocionais também precisam ser consideradas, pois interferem na aprendizagem.
Além disso, elas não são fundamentais apenas no contexto escolar, mas sobretudo na vida.
Portanto, se você quer potencializar a intervenção pedagógica, esteja atenta também às competências socioemocionais.
Neste post, você vai descobrir por que essas competências devem fazer parte das estratégias de intervenção pedagógica e como você pode aplicar isso na prática em sala de aula.
O que são competências socioemocionais?
As competências socioemocionais são um conjunto composto por conhecimentos, atitudes, valores e habilidades que uma pessoa mobiliza para
- conhecer sobre si mesmo,
- se relacionar com o outro,
- fazer escolhas,
- tomar decisões,
- enfim, viver.
“Essas competências se manifestam na forma de pensamentos, sentimentos e comportamentos, consolidando um conjunto de capacidades individuais que possibilitam a mobilização, a articulação e a prática de conhecimentos, valores, atitudes e habilidades necessárias para se relacionar com os outros e consigo mesmo, estabelecer e atingir objetivos e enfrentar situações adversas” (Instituto Ayrton Senna, 2021, p.6)
Elas estão diretamente ligadas ao desenvolvimento integral do aluno.
Por isso, na Base Nacional Comum Curricular (BNCC), as competências socioemocionais estão presentes em todas as 10 competências gerais.
“Na BNCC, competência é definida como a mobilização de conhecimentos (conceitos e procedimentos), habilidades (práticas, cognitivas e socioemocionais), atitudes e valores para resolver demandas complexas da vida cotidiana, do pleno exercício da cidadania e do mundo do trabalho” (BRASIL, 2018, p. 8).
Quais são as competências socioemocionais?
Competências socioemocionais de acordo com a estrutura CASEL
A CASEL (Collaborative for Academic, Social, and Emotional Learning) é uma comunidade multidisciplinar que busca tornar a aprendizagem socioemocional (SEL) parte de uma educação de alta qualidade e equitativa.
A estrutura que utilizam, conhecida como roda CASEL fornece uma base para implementação de estratégias de aprendizagem socioemocional.
O CASEL 5 aborda cinco competências:
- Autoconsciência: Capacidade de reconhecer a si mesmo, bem como suas forças e limitações.
- Autogestão: capacidade de regular emoções pensamentos e comportamentos. Gerenciar o estresse eficientemente, controlar impulsos e definir metas.
- Consciência social: capacidade de compreender e respeitar os outros. Está relacionada à empatia e respeito à diversidade.
- Habilidades de relacionamento: capacidade de estabelecer e manter relações saudáveis e construtivas com diferentes pessoas. Ouvir com empatia, falar com clareza e objetividade, cooperar com os outros, resistir às pressões inadequadas (como bullying), solucionar conflitos de modo construtivo e respeitoso.
- Tomada de decisão responsável: capacidade de fazer escolhas construtivas e éticas, considerando o bem-estar próprio e dos outros.

Competências socioemocionais segundo o Instituto Ayrton Senna
No Brasil, o Instituto Ayrton Senna realiza um trabalho muito relevante, que contribui com o desenvolvimento das competências socioemocionais em sala de aula.
Eles adotaram um modelo organizativo que compreende 5 macrocompetências e 17 competências socioemocionais. Segundo o Instituto, essas competências foram priorizadas e selecionadas por demonstrarem que podem ser desenvolvidas em experiências formais dentro das escolas.
Sendo assim, vale à pena conhecer esse modelo, pois ele é bem completo e nos oferece uma visão bem clara do que deve ser trabalhado.
Macrocompetência: Autogestão
Competências socioemocionais:
- Determinação
- Organização
- Foco
- Persistência
- Responsabilidade
Macrocompetência: Engajamento com os outros
Competências socioemocionais:
- Iniciativa social
- Assertividade
- Entusiasmo
Macrocompetência: Amabilidade
Competências socioemocionais:
- Empatia
- Respeito
- Confiança
Macrocompetência: Resiliência Emocional
Competências socioemocionais:
- Tolerância ao estresse
- Autoconfiança
- Tolerância à frustração
Macrocompetência: Abertura ao Novo
Competências socioemocionais:
- Curiosidade para aprender
- Imaginação criativa
- Interesse artístico

Por que incluir habilidades socioemocionais na intervenção pedagógica?
Um resumo publicado pela CASEL discute resultados de pesquisas sobre o papel crucial da aprendizagem socioemocional.
Esses resultados mostram que as intervenções de aprendizagem socioemocional melhoram o funcionamento executivo, importante para o desenvolvimento de habilidades preditoras da alfabetização.
Também observaram melhorias significativas em habilidades de leitura e matemática.
A publicação “Competências socioemocionais: a importância do desenvolvimento e monitoramento para a educação integral” do Instituto Ayrton Senna (SETTE, 2021) também menciona resultados que ressaltam a importância do desenvolvimento socioemocional em diversos âmbitos na vida do estudante:
- sociais,
- relações interpessoais,
- relações intrapessoais,
- saúde,
- educação,
- vida profissional.
Especificamente no campo da educação, os resultados dizem respeito:
- ao processo de traçar objetivos ambiciosos,
- ao desempenho escolar (matemática, português),
- às competências de tecnologia de informação (TI),
- à educação financeira.
Além de características e acontecimentos que ocorrem no âmbito escolar, como clima escolar, violência e evasão escolar.
Esses estudos mostram que as competências socioemocionais aumentam:
- o rendimento acadêmico,
- a assiduidade,
- o engajamento em aprender,
- o avanço na escolaridade
Além de melhorarem o clima da sala de aula.
Como incorporar as competências socioemocionais na escola?
Primeiramente, é importante conhecer melhor as competências.
Em segundo lugar, há evidências científicas que sugerem que para realizar um trabalho intencional com as competências socioemocionais, a melhor estratégia é realizar um planejamento de atividades que seja SAFE:
- Sequencial: as atividades devem ser sequenciais, isto é, com etapas conectadas e coordenadas.
- Ativo: com atividades que colocam em prática as competências a serem desenvolvidas.
- Focado: deve enfatizar o desenvolvimento de competências específicas, ao invés de trabalhar de forma genérica.
- Explícito: com objetivos definidos e claros (SETTE, 2021)
O planejamento, como estamos acostumadas, começa sempre com uma avaliação para conhecer o quanto os alunos já têm consolidado de cada competência.
Uma equipe de pesquisadores do Laboratório de Ciência para Educação (eduLab21) do Instituto Ayrton Senna notaram em estudos, que os estudantes que se percebiam com níveis mais desenvolvidos de Abertura ao novo e Autogestão tinham melhores notas em provas de Língua Portuguesa e Matemática, respectivamente.
Essa constatação é interessante para o trabalho com a intervenção pedagógica, pois nos mostra que a Abertura ao Novo e a Autogestão são competências socioemocionais que podem nos trazer bons resultados nesses componentes.
Outro estudo realizado em 2015 pelo Instituto também reforçou que no nível geral, as competências mais associadas ao desempenho acadêmico são Autogestão e Abertura ao novo.
Também indicou que a Determinação e Curiosidade para aprender, influenciam no desempenho tanto em Matemática quanto em Língua Portuguesa. Assim como a Amabilidade.

Sugestões práticas para trabalhar as competências socioemocionais na escola
- Check-in emocional
Antes de começar a atividade, pergunte: “Como você está se sentindo hoje?”. Ou use carinhas para que o aluno aponte o humor. Isso já cria conexão e segurança.
- Roda rápida de conversa
Se for um grupo, abra espaço para que falem sobre suas dificuldades com o conteúdo ou o que sentem ao tentar aprender.
- Reflexão pós-atividade e autoavaliação
Depois da intervenção, convide os alunos a refletirem:
“Hoje, o que foi difícil para você?
“O que conseguiu superar?
“Como se sentiu?”
“O que me motivou a não desistir?”
“O que posso repetir na próxima vez que sentir vontade de parar?”
- Uso de histórias e exemplos
Traga narrativas que abordam sentimentos, superações ou aprendizados sociais, relacionando com os conteúdos trabalhados.
- Elogie o esforço, não só o acerto
Comente: “Você persistiu mesmo quando achou difícil. Isso é muito importante!”
- Missão do dia
Sorteie um aluno por dia para receber uma missão secreta. Por exemplo, ajudar os colegas, fazer elogios, dizer mensagens de incentivo e motivação.
- Mural dos sonhos
Crie um mural ou cartaz em que os alunos expressem seus sonhos de médio/longo prazo (profissionais, pessoais, acadêmicos).
Depois, cada um desenha um “caminho possível até lá”:
Quais etapas? O que eu já tenho? O que preciso desenvolver?
Atualize esse mural ao longo do ano com conquistas alcançadas.
- Projeto conhecer
Proponha que os alunos formem duplas. Cada aluno deve fazer uma pastinha sobre a sua dupla, que contemple a história de vida, o que gosta de fazer, características, fotografias etc.
Em uma data agendada, a turma apresenta os trabalhos realizados e cada estudante recebe a pastinha que o colega confeccionou sobre ele.
- Painel de bilhetes
Crie um painel em que os estudantes da turma e a professora podem deixar bilhetes com mensagens positivas uns para os outros.
- Planejamento semanal guiado (com metas pessoais e acadêmicas)
Reserve um momento da semana (por exemplo, segunda-feira) para que os alunos planejem seus objetivos da semana, tanto de aprendizagem quanto pessoais.
Use fichas com perguntas como:
“O que eu quero aprender essa semana?”
“Qual esforço eu preciso fazer?”
“Quais obstáculos eu posso encontrar?”
“Como posso lidar com eles?”
Na sexta-feira, promova uma “Roda de conversa” para que cada um compartilhe os avanços e dificuldades.
- Projeto “Aprender um tema de interesse”
Convide os alunos a escolherem um tema que desperte interesse e, por uma semana ou mais, pesquisarem, registrarem e apresentarem o que aprenderam.
Estimule o uso de diferentes fontes: vídeos, livros, entrevistas, experiências práticas.
- Desafio “Aprenda algo novo em 7 dias”
Cada aluno escolhe algo que nunca tentou aprender (ex: desenhar um animal, fazer origami, meditar, aprender palavras em outro idioma).
Ele planeja sozinho como vai aprender e apresenta o resultado à turma.
No cotidiano, outras práticas ajudam no desenvolvimento de competências socioemocionais, tais como:
- Um aluno que apresenta um maior conhecimento do tema abordado na aula, pode auxiliar um colega que está com dificuldade
- Incentivar os alunos a falarem sobre suas dificuldades
- Favorecer a motivação e autoestima, dar feedback nas atividades
- Rodas de conversa
- Debates, troca de ideias
- Considerar e respeitar as individualidades
- Apoiar o aluno na identificação de metas e ajudá-lo no planejamento passo a passo
- Propor situações desafiadoras
- Buscar novos recursos e estratégias para ajudar todos os alunos
- Dinâmicas em grupo
- Entrevistas com familiares para saber mais sobre o aluno
Conclusão
Devemos lembrar que o desenvolvimento socioemocional não está separado do desenvolvimento cognitivo. Pois, nós não conseguimos separar: por exemplo, “hoje eu vou usar somente a dimensão cognitiva”.
Sendo assim, como seres integrais, tudo está relacionado. Por isso, o trabalho intencional com competências socioemocionais na escola ajuda a impulsionar a aprendizagem.
Quando falamos de intervenção pedagógica, isso se torna ainda mais evidente: não há recuperação de aprendizagem sem recuperação da confiança, da autoestima e da motivação.
Referências
BRASIL. Ministério da Educação. Base Nacional Comum Curricular. Competências socioemocionais como fator de proteção à saúde mental e ao bullying. Disponível em: https://basenacionalcomum.mec.gov.br/implementacao/praticas/caderno-de-praticas/aprofundamentos/195-competencias-socioemocionais-como-fator-de-protecao-a-saude-mental-e-ao-bullying. Acesso em: 15 jul. 2025.
Collaborative for Academic, Social and Emotional Learning (CASEL). What Is the CASEL Framework? In: Fundamentals of SEL – What Is the CASEL Framework?. Chicago: CASEL, [s.d.]. Disponível em: https://casel.org/fundamentals-of-sel/what-is-the-casel-framework/. Acesso em: 15 jul. 2025. casel.org+7casel.org+7casel.org+7
SETTE, Catarina Possenti (org.). Competências socioemocionais: a importância do desenvolvimento e monitoramento para a educação integral [livro eletrônico]. São Paulo: Instituto Ayrton Senna, 2021. Disponível em: https://institutoayrtonsenna.org.br/app/uploads/2022/11/instituto-ayrton-senna-avaliacao-socioemocional.pdf. Acesso em: 13 jul. 2025.
WARD, Alessandra E.; BEEBE, Jenna L.; LANE, George M.; STEELE, Lakeisha; MA, Aileen. How Social and Emotional Learning Supports Literacy Pre K – Grade 5. Chicago: Collaborative for Academic, Social and Emotional Learning – CASEL, 5 fev. 2025. Disponível em: https://casel.org/how-social-and-emotional-learning-supports-literacy-pre-k-grade-5/. Acesso em: 15 jul. 2025.