O que é ansiedade matemática? Como reconhecer e ajudar seus alunos

Entenda o que é ansiedade matemática, quais são os sintomas, causas, como ela afeta a aprendizagem e as melhores estratégias para ajudar os alunos a cultivarem uma relação positiva com a matemática.

Seus alunos gostam de matemática?

Esta não é uma disciplina querida por muitas pessoas.

A sociedade nos fez acreditar que somente algumas pessoas têm um “dom” natural para aprender matemática. Com isso, nossa tendência é acreditar que é normal alguns estudantes não gostarem de matemática.

No entanto, os estudos recentes nos mostram que isso é um mito. Também nos alertam para uma questão muito preocupante: a ansiedade matemática (AM).

Essas descobertas nos ajudam a compreender melhor as dificuldades de aprendizagem dos alunos. E entender que a AM é um dos fatores que pode interferir no desempenho dos estudantes.

Certamente, você já se deparou com aquele aluno que evita participar das aulas de matemática, fica nervoso e apresenta até mesmo sintomas fisiológicos. Isso pode não ser apenas desinteresse pelos estudos, mas um tipo de ansiedade que prejudica a aprendizagem.

Neste post, vamos refletir sobre o que é ansiedade matemática, como ela afeta o desempenho escolar e o que nós podemos fazer para ajudar esses alunos.

O que significa ansiedade matemática?

Figueira, P. et al (2023, p. 2), com referência a vários autores, explicam que o termo ansiedade matemática denomina um conjunto de crenças, sintomas físicos e emocionais que algumas pessoas têm ao lidar com problemas matemáticos.

Ribeiro e Carmo (2024, p. 2) definem a AM como “um conjunto de atitudes negativas e reações emocionais de medo e aversão à matemática”. Estas interferem na manipulação de números e na resolução de problemas matemáticos.

A ansiedade matemática afeta tanto crianças, quanto adultos, dentro e fora do ambiente escolar.

Segundo informações do portal G1, cerca de 79,5% dos estudantes que participaram do Pisa 2022 (Programa para Avaliação Internacional dos Estudantes) têm ansiedade em relação às suas notas de matemática. Sendo que 62,3% dos estudantes responderam que ficam nervosos, tensos ou desamparados resolvendo problemas matemáticos.

Sinais e sintomas da ansiedade matemática

Alguns indícios de ansiedade matemática, apresentados pelos estudos citados são:

  • crença de incapacidade e fracasso,
  • avaliação negativa da matemática e do próprio desempenho,
  • esquecimento do que foi aprendido,
  • dificuldade de organizar os pensamentos e raciocínio,
  • reações emocionais de medo, raiva, tensão,
  • sintomas fisiológicos como taquicardia, sudorese, cólicas intestinais, calafrios, tonturas, falta de ar, entre outros.

Esses fatores influenciam na aprendizagem. Entretanto, os estudos mostram que mesmo alunos com um desempenho alto podem sentir a ansiedade matemática.

Aluno roendo as unhas, ansioso e ao fundo uma lousa com expressões matemáticas escritas com giz. A imagem ilustra o que é ansiedade matemática e os sintomas.

Causas comuns da ansiedade matemática

Ana Maria A. Campos (2022, p. 219) analisou diversos trabalhos sobre a AM. Ela observou que algumas pesquisas consideram a ansiedade matemática como uma

“condição funcionalmente semelhante ao transtorno de ansiedade, que inclui ‘fobia social’ e, por outro lado, pode ser classificada como um distúrbio de aprendizado matemático (…)”.

Por outro lado, algumas pesquisas indicam uma causa cultural.

“Conjectura-se que os padrões de ansiedade matemática podem ser reforçados pelos familiares e pela escola, quando reafirmam essas ideias de que a matemática é difícil, incutindo regras inadequadas às crianças, propagando que existe uma única solução para cada problema, por meio de metodologias de ensino inadequadas, por ameaças e exposição a situações vexatórias, desmotivando o estudante e prejudicando seu desenvolvimento acadêmico e social” (Campos, 2022, p. 220).

De fato, a imagem que construímos sobre a matemática tem muita influência de como a sociedade “enxerga” essa disciplina.

Muitos “mitos” foram criados e hoje, a neurociência nos convida a repensar a nossa própria convicção como educadores, pois não queremos perpetuar uma imagem negativa sobre a matemática, não é mesmo?

Como a ansiedade matemática afeta o aprendizado?

A ansiedade matemática interfere diretamente na memória de trabalho dos estudantes.

Esse fato é comprovado por pesquisas por meio de exames de Ressonância Magnética Funcional (fMRI) e escalas de avaliação de déficits (Campos, 2022);

  • Estudantes com ansiedade matemática cometem mais erros na resolução de problemas de adição e divisão com reagrupamento, e levam um tempo maior para resolução (Campos, 2022);
  • Os alunos com esse tipo de ansiedade participam menos das aulas de matemática e afastam-se de atividades relacionadas à essa área. Isso prejudica o desempenho (Campos, 2022);
  • As emoções negativas desencadeadas dificultam os processos cognitivos e interferem no desempenho mesmo em crianças que não apresentam déficits cognitivos (Figueira, P. et al, 2023).

O que o professor pode fazer para ajudar os estudantes a ter uma imagem positiva sobre a matemática?

Alunos com expressão de felicidade e motivação, vários materiais concretos na mesa escolar e professora realizando intervenções. A imagem ilustra como os professores podem ajudar os alunos a terem uma relação positiva com a matemática, superando a ansiedade.

Os estudos de Campos (2022) apontaram alguns fatores que têm o potencial de identificar e otimizar o processo de aprendizagem de estudantes com ansiedade matemática:

  • motivação,
  • autoconceito,
  • autoeficácia,
  • autoestima,
  • autopercepção,
  • emoções,
  • cognição,
  • afeto.

A autora também chama a atenção para a necessidade de estimular a curiosidade, reforçar e destacar os pontos fortes do estudante.

Elisa Fonseca Sena e Silva, e José Fábio Boia Porto (2021) discutem sobre os mitos atribuídos à matemática e apresentam soluções práticas, com base nos estudos de Jo Boaler.

A leitura desse material nos convida a refletir sobre como nós mesmos, enquanto educadores, precisamos repensar a matemática.

É importante considerar que são evidências comprovadas pela neurociência. A seguir, vou apresentar algumas sugestões que podem ser aplicadas na sala de aula com base nas contribuições de Silva e Porto (2021):

  1. Conscientize os alunos de que todos nós podemos aprender matemática;
  2. Elogie os alunos pelo esforço. Evite dizer “você conseguiu porque é inteligente”. Parabenize pelas ações, pelo que fizeram e aprenderam;
  3. Faça perguntas abertas para dar espaço para a criatividade dos alunos;
  4. Proponha um problema antes de ensinar o método;
  5. Utilize múltiplas representações, ou seja, estimule o aluno a representar o que aprendeu, utilizando uma solução visual, palavras escritas e algoritmo;
  6. Não cobre velocidade na resolução de problemas matemáticos. Muitos alunos ficam muito ansiosos ao pensar que devem responder rapidamente, principalmente cálculos mentais. Ensine-os que para ser bom em matemática não precisamos necessariamente ser rápidos;
  7. Evidencie que o erro não é ruim. Quando erramos nosso cérebro faz mais conexões e isso ajuda no aprendizado;
  8. Planeje atividades colaborativas que permitem troca de ideias com os colegas;
  9. Para que o grupo seja mais produtivo, atribua papeis a cada estudante (responsabilidades para que todos os membros do grupo possam colaborar);
  10. Utilize diversos instrumentos avaliativos, incluindo a autoavaliação para alunos;
  11. Mais que “avaliar a aprendizagem”, “avalie para que a aprendizagem aconteça”.

Conclusão

A ansiedade matemática é cada vez mais frequente, prejudicando muitas pessoas até mesmo no cenário profissional.

Ao compreender o que é ansiedade matemática, você pode dar um passo essencial para ajudar seus alunos a superarem esse desafio.

Para finalizar, gostaria de fazer um questionamento: como é a sua relação com a matemática?

Se você não tem uma relação positiva, saiba que também nós, que não tivemos a oportunidade de ver tanta beleza na matemática, podemos mudar nosso pensamento.

No curso de pedagogia experimentei uma matemática que não conhecia e pesquisando novas estratégias para ensinar conceitos matemáticos, faço descobertas a cada dia.

Sabe quando a gente se depara com alguma estratégia nova (para nós) e pensa: “por que ninguém nunca me ensinou isso, dessa forma?!” Fico encantada com tantas possibilidades.

Ou seja, sempre é tempo de aprender coisas novas… Nosso cérebro é capaz!

Leia também

Você precisa de estratégias para facilitar a resolução de problemas matemáticos para alunos com dificuldade de aprendizagem? Temos um post com 11 dicas que podem te ajudar.

Referências

CAMPOS, Ana Maria Antunes de. Ansiedade matemática: Fatores cognitivos e afetivos. Rev. psicopedag.,  São Paulo ,  v. 39, n. 119, p. 217-228,  ago.  2022.   Disponível em <http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0103-84862022000200007&lng=pt&nrm=iso>. acessos em  16  ago.  2025. 

FIGUEIRA, P. et al.. DIFICULDADE EM ARITMÉTICA EM CRIANÇAS COM ALTA INTELIGÊNCIA: EFEITO DA ANSIEDADE MATEMÁTICA?. Psicologia Escolar e Educacional, v. 27, p. e243543, 2023.  https://www.scielo.br/j/pee/a/YmhtHR5T37KsKpgjBb5Jt6m/?lang=pt

MORI, Letícia. A epidemia de ansiedade com matemática no Brasil e no mundo revelada por estudo da OCDE. G1, 13 nov. 2024. Disponível em: https://g1.globo.com/educacao/noticia/2024/11/13/a-epidemia-de-ansiedade-com-matematica-no-brasil-e-no-mundo-revelada-por-estudo-da-ocde.ghtml. Acesso em 16 ago. 2025.

RIBEIRO, T. A.; CARMO, J. DOS S.. Estratégias de Redução da Ansiedade Matemática: uma revisão sistemática da literatura. Bolema: Boletim de Educação Matemática, v. 38, p. e230007, 2024. https://www.scielo.br/j/bolema/a/DCHXyTD8Syn7T9jjgmtsjKq/?lang=pt

SILVA, Elisa Fonseca Sena; PORTO, José Fábio Boia. As cinco práticas de mentalidades matemáticas. Associação Nacional dos Professores de Matemática na Educação Básica, 2021. Ebook. Disponível em: https://anpmat.org.br/wp-content/uploads/2022/05/Ebook_ElisaFabio_28-04-2022.pdf. Acesso em 28 jun. 2025.

Imagens: Canva

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