A defasagem de aprendizagem nos anos iniciais do ensino fundamental tem sido motivo de preocupação para muitos professores. Conheça estratégias e dicas para lidar com esse grande desafio.
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Ao longo da história, os programas de recuperação estiveram mais concentrados na questão da defasagem idade-ano de escolaridade, pois a preocupação era de que os alunos “passassem de ano”.
Depois da organização do ensino por ciclos e implantação da progressão continuada, o foco dos programas de recuperação passou a ser a questão das defasagens na aprendizagem.
A defasagem de aprendizagem sempre esteve presente no cenário educacional, mas atualmente, é uma questão preocupante. Os desafios impostos pela atualidade trazem à tona a necessidade de novas ações para garantir a oportunidade de aprender a todos os estudantes.
Nos anos iniciais do ensino fundamental, a defasagem de aprendizagem deve ser tratada com muita atenção, pois nesse período os alunos construirão a base do percurso escolar.
Mas, afinal: o que é defasagem de aprendizagem? Quais as causas? Quais estratégias podem nos ajudar a lidar com essa questão? Como podemos ajudar os alunos com defasagens na aprendizagem? Saiba mais neste post.
O que é defasagem na aprendizagem?
A defasagem significa que o aluno está matriculado em determinado ano de escolaridade, mas não alcançou as expectativas de aprendizagem esperadas para tal ano letivo ou esperadas para sua idade.
Sendo assim, há um atraso no desenvolvimento das habilidades em relação à idade ou ano de escolaridade, especialmente relacionadas à leitura, escrita e alfabetização matemática.
A defasagem é diferente da dificuldade de aprendizagem. Quando falamos em defasagem remetemos a “não aprendizagem”, ou seja, o estudante não teve a oportunidade de desenvolver esse conhecimento.
Entretanto, os termos estão relacionados, pois as dificuldades de aprendizagem persistentes podem desencadear a defasagem de aprendizagem.
Principais causas da defasagem de aprendizagem nos Anos Iniciais
Vários fatores podem desencadear a defasagem na aprendizagem. Às vezes, acontece uma soma de vários deles.
- Falta de uma base de habilidades essenciais dos primeiros anos de escolaridade;
- Falta de acesso a recursos educacionais adequados;
- Baixa frequência;
- Desmotivação;
- Lacunas no ensino;
- Desigualdades socioeconômicas;
- Dificuldades no processo de alfabetização;
- Metodologias inadequadas;
- Dificuldades de aprendizagem.
Consequências da defasagem para o desenvolvimento do aluno

A persistência da defasagem de aprendizagem nos Anos Iniciais do Ensino Fundamental pode comprometer a continuidade dos estudos nos anos seguintes.
Isso porque nos Anos Iniciais acontece a formação da base necessária para o aprendizado dos conteúdos do Ensino Fundamental II.
A defasagem provoca efeitos cumulativos na trajetória escolar. Para compreender melhor porque isso acontece, devemos lembrar que a BNCC é organizada em uma proposta de progressão em espiral.
O currículo em espiral oferece a possibilidade de o aluno ter contato com o mesmo conteúdo em diferentes anos de escolaridade. Acontece uma progressão em diferentes níveis de aprendizagem.
Ou seja, um mesmo objeto de conhecimento pode ser trabalhado em diferentes anos de escolaridade, com um nível de complexidade que vai aumentando.
“As habilidades são apresentadas segundo a necessária continuidade das aprendizagens ao longo dos anos, crescendo progressivamente em complexidade. Acrescente-se que, embora as habilidades estejam agrupadas nas diferentes práticas, essas fronteiras são tênues, pois, no ensino, e também na vida social, estão intimamente interligadas. Assim, as habilidades devem ser consideradas sob as perspectivas da continuidade das aprendizagens e da integração dos eixos organizadores e objetos de conhecimento ao longo dos anos de escolarização” (BNCC, 2017, p.86).
Voltando a discussão sobre os efeitos cumulativos da defasagem escolar, agora podemos compreender melhor que se o aluno não consolidou uma habilidade em progressão neste ano letivo, ele terá dificuldade em desenvolver uma habilidade do próximo ano letivo que será apresentada com uma complexidade maior.
Muitas vezes, não se trata somente do ano seguinte, pois no mesmo ano letivo pode acontecer uma progressão de habilidades, sendo que elas também podem estar relacionadas umas com as outras.
Sem a base necessária, fica muito difícil avançar na aprendizagem. Assim, cria-se o famoso “Efeito Mateus”.
Além disso, os alunos que apresentam defasagem na aprendizagem vão perdendo a motivação pelos estudos. O que interfere na autoestima dos estudantes.
Estratégias para enfrentar a defasagem de aprendizagem nos Anos Iniciais
Avaliações diagnósticas e acompanhamento individualizado
Sei que não é fácil planejar, aplicar e registrar avaliações, pois além das avaliações internas, temos as avaliações externas (que não são poucas). E tantas outras demandas!
Porém, não existe uma maneira mais eficiente de identificar as causas da defasagem.
Muitas vezes, temos uma noção dessas causas, mas agir com base no “achismo”, pode repercutir em uma perda de tempo, pois corremos o risco de aplicar intervenções que não trarão o resultado esperado.
Sendo assim, é melhor realizar um bom diagnóstico, para identificar quais habilidades não foram consolidadas.
Pense no seguinte: O aluno está apresentando muita dificuldade em desenvolver uma habilidade do ano atual. Quais habilidades de anos anteriores são pré-requisito para o desenvolvimento dessa habilidade? Será que ele consolidou a base necessária?
Tendo essa clareza, é mais fácil intervir de forma certeira para ajudar o estudante a superar a defasagem na aprendizagem.
Fazer um acompanhamento individualizado de forma contínua e processual também é muito importante. A utilização de fichas ou planilhas facilita esse trabalho.
Às vezes é chato, estamos cansadas de tantas burocracias, mas é uma maneira de conseguir visualizar o processo, perceber se está tendo resultados e de documentar um trabalho que está sendo realizado.
Quando falamos de avaliação, logo vem à nossa mente: provas. Porém, existem muitas outras maneiras de avaliar, inclusive mais “leves”.
Por exemplo, você pode propor um jogo pedagógico e ter a intencionalidade de avaliar. Para isso, você pode preparar fichas e registrar em qual momento o aluno tem mais facilidade ou dificuldade, como ele está interagindo com a proposta, se aconteceu algum avanço a partir de sua mediação etc.
Quando registramos, conseguimos ter uma visão mais ampla, refletir sobre esses dados e comparar com outros resultados de avaliações anteriores.

Priorização curricular
Quando pensamos em recuperação, normalmente, vem a ideia de que devemos retomar todas as habilidades dos anos anteriores para preencher as lacunas de aprendizagem.
É desanimador e praticamente inviável fazer isso. Aí que entra a priorização curricular. A priorização curricular nos dá a possibilidade de focar apenas nas habilidades prioritárias, essenciais para a continuidade da trajetória escolar.
Após identificar quais são as lacunas da aprendizagem, você pode se concentrar nas habilidades essenciais do currículo.
Para tal, é necessário entender quais são os objetivos centrais de cada ano de escolaridade. E estudar bastante a BNCC!
Uma sugestão é conhecer a matriz curricular priorizada para recomposição das aprendizagens do MEC. A Matriz realiza a seleção e priorização de habilidades essenciais, sendo muito útil para nortear nosso trabalho.
Recomposição da aprendizagem
Por meio da priorização curricular, temos uma base sólida para realizar a recomposição das aprendizagens.
A recomposição abrange estratégias e ações para lidar com as defasagens.
A recomposição da aprendizagem foi muito falada no período pós-pandêmico. Mas isso não significa que não possa continuar sendo implementada nos dias de hoje.
Vale destacar que a recomposição da aprendizagem não tem sido recomendada para o 1º, 2º e 3º anos do Ensino Fundamental, mas sim a partir do 4º Ano.
Práticas pedagógicas diferenciadas e adaptativas
A diferenciação pedagógica é uma estratégia que pode ajudar a superar as defasagens. Pois, é preciso adaptar as atividades às necessidades de aprendizagem da criança com defasagem.
Intervenções pedagógicas
As intervenções pedagógicas, planejadas com intencionalidade, são indispensáveis para ajudar as crianças a avançarem a partir do que já sabem.
Já que abrange estratégias e metodologias diferenciadas, tais como metodologias ativas, materiais concretos, jogos pedagógicos, atividades diferenciadas com gêneros textuais, dentre outras oportunidades de aprendizagem.
Agrupamentos produtivos
Os agrupamentos são uma estratégia de intervenção pedagógica muito eficaz. Não significa formar grupos aleatórios, mas sim com intencionalidade, para possibilitar o aprendizado dos alunos uns com os outros.
Também é uma maneira de o professor planejar intervenções específicas para cada grupo, de acordo com o nível de aprendizagem dos estudantes.
Contudo, vale ressaltar que os agrupamentos não beneficiam apenas os alunos que estão com defasagem. Todos os estudantes da turma podem avançar em suas aprendizagens.
Uma vez que os agrupamentos produtivos constituem uma estratégia pensada em respeitar a diversidade da sala de aula, em que o ensino não será homogêneo, mas voltado à necessidade de cada grupo.
Valorização da formação continuada dos professores
Em qualquer área, sempre é bom aprender! O conhecimento amplia nossa visão e nos capacita a enfrentar os desafios educacionais.
A rotina dos professores é muito pesada. Muitos dedicam as horas em que deveriam descansar, para planejar aulas e estudar.
Não deveria ser assim. A formação continuada deve ser mais valorizada pelas redes, não como mais um item do fardo pesado dos professores, mas como parte do trabalho. Os professores precisam de contar com o apoio institucional para ter uma formação constante.
Muitas contribuições da ciência ajudam a compreender melhor como a criança aprende e a lidar com tantos desafios que a cada dia surgem na atualidade.
Participação da família
A superação das defasagens de aprendizagem nos anos iniciais não deve ser uma obrigação somente da escola.
Todos podem contribuir, inclusive os pais ou responsáveis. A família pode oferecer estímulos, motivar as crianças a estudarem, fortalecer a autoestima, enfim, dar o suporte que os professores precisarem.
Conclusão
A defasagem de aprendizagem nos anos iniciais do ensino fundamental é algo particularmente preocupante, pois compromete a consolidação de competências essenciais que servem de base para toda a trajetória escolar.
Por esse motivo, deve ser tratada com atenção por todos os envolvidos (família, professores, gestores, políticas públicas).
Precisamos identificar as causas e traçar estratégias para ajudar a criança a continuar a trajetória escolar, no nível de aprendizado adequado ao seu ano de escolaridade.
Referências
BRASIL. Base Nacional Comum Curricular. Ministério da Educação/MEC: 2017. Disponível em: <http://basenacionalcomum.mec.gov.br/images/BNCC_EI_EF_110518_versaofinal_site.pdf>. Acesso em: 11 ago. 2023.