Dificuldades de aprendizagem nos Anos Iniciais

As dificuldades de aprendizagem nos Anos Iniciais interferem em todo o percurso escolar se não acontecer uma intervenção precoce. Neste post, vamos aprofundar sobre esse tema à luz da literatura científica e apresentar várias dicas para você, que busca ajudar os alunos a superar as dificuldades.  

Olá! Que bom ter você aqui!

A compreensão sobre as dificuldades de aprendizagem é essencial para uma boa prática docente.

Apesar de não serem persistentes e ligadas às questões do neurodesenvolvimento como é o caso dos transtornos de aprendizagem, as dificuldades de aprendizagem também devem ter a nossa atenção.

Nos Anos Iniciais do Ensino Fundamental se constroem as bases da leitura, escrita e matemática. Considerando que essa é uma fase muito importante na trajetória escolar, se as dificuldades não forem sanadas, isso irá impactar negativamente em todo o percurso.

Mas o que fazer quando uma criança apresenta dificuldades de aprendizagem nos anos iniciais? Sabemos que não é algo simples como quem está fora do cenário educacional pensa.

Todavia, identificar os sinais precocemente e agir com intencionalidade é essencial.

Se você quer refletir sobre o tema e ter dicas práticas, acompanhe este post!

O que são dificuldades de aprendizagem?

Vitor da Fonseca é um dos grandes estudiosos da humanidade. Ele é especialista em Intervenção Cognitiva, Dificuldades de Aprendizagem e Psicomotricidade, sendo que obteve o mestrado em Dificuldades de Aprendizagem pela Universidade de Northwestern (Evanston – Chicago), além de diversas outras formações.

Como grande referência na área, ele define dificuldade de aprendizagem (DA) como:

um conjunto heterogêneo de desordens, perturbações, transtornos, incapacidades, ou outras expressões de significado similar ou próximo, manifestando dificuldades significativas, e ou específicas, no processo de aprendizagem verbal, isto é, na aquisição, integração e expressão de uma ou mais das seguintes habilidades simbólicas: compreensão auditiva, fala, leitura, escrita e cálculo. Diversos autores, entre os quais nos colocamos, incluem no conceito das DA não só as DA verbais e simbólicas, mas, também, um espectro diversificado de DA não verbais ou não simbólicas, envolvendo combinações de problemas de orientação, posição e visualização espacial, de atenção e concentração, de psicomotricidade, de interação, de imitação, de percepção e de competência social, etc., reforçando a explicitação filogenética e neurofuncional dos dois hemisférios cerebrais em qualquer tipo de aprendizagem humana” (…) (Fonseca, 2007, p.136).

O autor reconhece que as DA geram inúmeras controvérsias, sendo que há muitas opiniões e poucas informações sobre o assunto.

É importante destacar que dificuldades de aprendizagem não devem ser confundidas com deficiência intelectual.

Isso significa que as DA ocorrem em crianças com inteligência dentro ou acima da média, e estão relacionadas a diferenças neurológicas no processamento de informações. Assim, mesmo crianças superdotadas, podem apresentar dificuldades de aprendizagem (Fonseca, 2007).

No artigo “Relação entre Fluência e Compreensão Leitora em Escolares com Dificuldades de Aprendizagem”, as autoras Vera Lúcia Orlandi Cunha, Maíra Anelli Martins e Simone Aparecida Capellini, explicam que:

A dificuldade de aprendizagem caracteriza-se por um grupo heterogêneo de manifestações que ocasiona baixo rendimento em leitura, escrita e cálculo-matemático” (p.1).

Nesse estudo, constatou-se o que observamos claramente nas escolas: os estudantes sem dificuldades de aprendizagem na leitura têm desempenhos cada vez mais superiores. Enquanto ocorre o inverso com os estudantes com dificuldades de aprendizagem. Ou seja, seus desempenhos são cada vez mais inferiores.

A conclusão a que as autoras chegaram foi que é necessário trabalhar com a decodificação e fluência da leitura dentro da sala de aula.  Para, assim, prevenir possíveis dificuldades no aprendizado da leitura e de outras habilidades acadêmicas.

Aprender a ler é um processo muito complexo. Desse modo, envolve várias habilidades.

O mais importante é não deixar que essas dificuldades se acumulem, esperando que a criança aprenda a ler e escrever “naturalmente”. As intervenções dos professores são fundamentais.

Professora auxiliando uma criança para ilustrar a importância de intervir precocemente nas dificuldades de aprendizagem.

Diferença entre dificuldade de aprendizagem e transtorno de aprendizagem

Transtornos de aprendizagem

Segundo o DSM-5,

O transtorno específico da aprendizagem é um transtorno do neurodesenvolvimento com uma origem biológica que é a base das anormalidades no nível cognitivo as quais são associadas com as manifestações comportamentais. A origem biológica inclui uma interação de fatores genéticos, epigenéticos e ambientais que influenciam a capacidade do cérebro para perceber ou processar informações verbais ou não verbais com eficiência e exatidão” (DSM-5, p. 68).

Simplificando, nos transtornos de aprendizagem “as dificuldades de aprendizagem são persistentes e não transitórias” (DSM-5, p.68).

Nesse sentido, a criança com transtornos de aprendizagem precisa de um diagnóstico realizado por uma equipe multidisciplinar e de intervenções específicas e contínuas.

Ou seja, o professor precisará encaminhar o aluno para um atendimento clínico e, assim, ter o apoio de outros profissionais.

Existem os transtornos de aprendizagem, como a dislexia, disgrafia e discalculia. Mas também transtornos de comunicação, transtorno de déficit de atenção e hiperatividade, transtorno do espectro autismo e transtornos motores.

Dificuldades de aprendizagem

as dificuldades de aprendizagem são passageiras e transitórias. Claro que para serem sanadas, é preciso realizar intervenções. Pois, caso contrário, podem persistir e trazer muitos prejuízos para a vida escolar e também social.

De acordo com Fonseca (2016, p. 13),

as DA constituem, consequentemente, dificuldades momentâneas, transitórias, sutis e temporárias (…). Não podem ser confundidas com dificuldades definitivas, persistentes, continuadas e permanentes, como as que são evidenciadas na deficiência mental, isto é, em crianças com um défice ou atraso no funcionamento cognitivo (…)”

Causas das dificuldades de aprendizagem

As dificuldades podem surgir por diversos fatores como:

  • metodologia inadequada às especificidades do aluno,
  • questões emocionais,
  • falta de estímulos em casa e na escola,
  • desnutrição,
  • desmotivação etc.

Geralmente, são fatores externos.

Quais são as principais dificuldades de aprendizagem nos Anos Iniciais?

  • Dificuldade na leitura:

Pode ser identificada quando a criança não relaciona grafemas e fonemas, troca fonemas, lê devagar ou não compreende o que lê.

Segundo Fonseca (2005), o estudante que tem problemas de atenção, percepção analítica, memorização, recuperação de informações, entre outros, terá dificuldades na leitura.

  • Dificuldade em aprender cores, formas;
  • Dificuldades na recuperação de informações;
  • Dificuldades na motricidade e coordenação motora;
  • Dificuldade de expressar oralmente;
  • Dificuldade de organização e de concluir tarefas;
  • Dificuldade na escrita:

O estudante apresenta erros repetitivos, mesmo na escrita de palavras simples. Além da aquisição da escrita, pode estar relacionado às dificuldades ortográficas.

  • Dificuldade nas operações básicas de matemática:

Envolve contagem, relacionar quantidades, compreender o significado das operações básicas, memorizar os fatos básicos, memorizar a tabuada.

  • Dificuldade em concentrar nas atividades e prestar atenção nas aulas:

Talvez a criança fique dispersa, tem muito sono na sala de aula, não compreende os conceitos.

  • Dificuldade em resumir textos e recontar histórias;
  • Baixa autoestima, desmotivação com os estudos;
  • Rendimento escolar baixo.

Todos esses sinais devem ser considerados com atenção. Se mesmo após intervenções pedagógicas, a dificuldade não for sanada, é necessário fazer um encaminhamento clínico.

Professora comemorando com um aluno com em um gesto que chamamos “bate aqui”, enquanto outra criança desenha, representando um ambiente positivo e de apoio aos alunos com dificuldades de aprendizagem nos anos iniciais.

Como ajudar o aluno a superar as dificuldades de aprendizagem? Confira 12 dicas

  • 1. Realize uma avaliação eficiente

Primeiramente, precisamos conhecer cada dificuldade.

As fichas, planilhas ou relatórios são muito úteis para registrar o nome e idade da criança, em quais áreas ela tem dificuldade (cognitiva, emocional ou motora), se ela interage com os colegas e com a professora, se tem dificuldade em seguir instruções e um campo para observações percebidas no dia a dia.

Quanto ao desempenho acadêmico, mapeie as habilidades que os alunos não consolidaram.

Porém, não anote somente as fragilidades. Registre as potencialidades também, pois isso ajudará no planejamento de atividades adequadas ao estilo de aprendizagem de cada aluno.

  • 2. Priorize habilidades essenciais

Não é possível trabalhar todas as habilidades, pois muitas vezes, as dificuldades são muitas e podem estar relacionadas à defasagem dos conteúdos. Sendo assim, defina a demanda mais urgente.

  • 3. Utilize recursos visuais

Recursos como mapas mentais, esquemas, desenhos, gráficos, tabelas, cartazes, entre outros, podem facilitar a compreensão.

  • 4. Use materiais concretos

Principalmente na aprendizagem da Matemática, a manipulação de materiais concretos antes da apresentação de conceitos abstratos faz toda a diferença.

  • 5. Inclua jogos e atividades lúdicas nas aulas

Os jogos e atividades lúdicas motivam os estudantes e incentivam a superar desafios.

  • 6. Divida as tarefas em etapas menores

Algumas atividades mais complexas podem confundir o cérebro das crianças com DA. Por isso, você pode dividir a tarefa em etapas menores, para que a criança vá resolvendo passo a passo.

Por exemplo, a resolução de problemas na matemática pode ficar mais fácil se o aluno entender o problema, anotar os dados, escolher a operação adequada e só depois resolvê-lo.

  • 7. Na alfabetização, dê importância ao ensino de habilidades fonológicas

Muitas crianças não conseguem ler e escrever dentro da idade esperada porque não desenvolveram as habilidades preditoras da alfabetização. A consciência fonológica é uma delas.

Por isso, muitas vezes, é preciso retomar o ensino da consciência fonológica quando o aluno ainda não foi alfabetizado, mesmo estando em séries avançadas.

Claro que essa não é a única habilidade que precisa ser desenvolvida, mas tem grande relevância no aprendizado da leitura e escrita.

  • 8. Inclua na rotina muitas atividades de leitura

A leitura compartilhada de um livro pode mobilizar muitos conhecimentos.

Leia sempre para as crianças, ative os conhecimentos prévios, faça perguntas, seja um modelo de leitor(a).

  • 9. Coloque em prática o reforço positivo

Mesmo que a criança tenha conseguido um avanço pequeno, elogie, celebre cada conquista junto com ela. Isso fortalece a autoestima.

Elogie o esforço e não os acertos!

  • 10. Comunique aos pais ou responsáveis pelo aluno sobre as dificuldades e o que está sendo feito para intervir

Esse é um ponto desafiador, pois, na maioria das vezes, esperamos um apoio da família que nunca acontece.

Mas, penso o seguinte: se estamos fazendo a nossa parte, cumprimos nosso dever (é muito importante deixar registrado que houve essa comunicação).

O máximo que pode acontecer, é sermos surpreendidos!

  • 11. Busque conhecimentos

Sei que é difícil pela falta de tempo, mas o conhecimento é muito relevante. Os estudos da neurociência, por exemplo, podem abrir nossa mente para novas possibilidades de intervir nas dificuldades de aprendizagem.

  • 12. Elabore um plano de intervenção pedagógica

A intervenção pedagógica é muito útil, pois envolve estratégias para superar a dificuldade identificada no processo de ensino e aprendizagem.

O plano de intervenção pedagógica pode incluir metodologias e recursos diversificados e diferenciados para atender às necessidades de cada aluno.

Conclusão

Neste post, vimos que vários fatores podem desencadear dificuldades de aprendizagem. É um tema complexo, pois até mesmo na comunidade científica, há opiniões controversas e não há consenso.

Entretanto, não podemos negligenciar essas dificuldades, pois elas podem prejudicar a continuidade dos estudos.

As dificuldades de aprendizagem nos Anos Iniciais precisam de uma atenção especial. Isso porque intervir nos primeiros anos de escolaridade, evita o agravamento das dificuldades, insucesso escolar e até mesmo evasão.

Se você está enfrentando esse desafio com sua turma, leia também:

Plano de Intervenção Pedagógica 3º Ano: Como identificar e atender alunos com dificuldades de aprendizagem

Plano de Intervenção Pedagógica 4º Ano: estratégias para superar dificuldades em Língua Portuguesa e Matemática

Plano de Intervenção Pedagógica para 5º Ano: Como intervir nas dificuldades de aprendizagem e preparar os estudantes para o Ensino Fundamental II

Referências

AMERICAN PSYCHIATRIC ASSOCIATION. Manual diagnóstico e estatístico de transtornos mentais: DSM-5. Tradução: Maria Inês Corrêa Nascimento et al. Revisão técnica: Aristides Volpato Cordioli et al. Porto Alegre: Artmed, 2014.

CUNHA, V. L. O.; MARTINS, M. A.; CAPELLINI, S. A.. Relação entre Fluência e Compreensão Leitora em Escolares com Dificuldades de Aprendizagem. Psicologia: Teoria e Pesquisa, v. 33, p. e33314, 2017. https://www.scielo.br/j/ptp/a/4G3GsrWzMSk7SSQ7FtrSC5h/?lang=pt

FONSECA, Vitor da. Dificuldades de aprendizagem: na busca de alguns axiomas. Rev. psicopedag., São Paulo, v. 24, n. 74, p. 135-148, 2007. Disponível em <http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0103-84862007000200005&lng=pt&nrm=iso>. Acesso em 24 maio 2025.

FONSECA, Vitor da. Dificuldades de aprendizagem: abordagem neuropsicopedagógica. 5ª ed. Rio de Janeiro: Wak; 2016.

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